Lorena
Desde o momento que voltei pra casa, soube que o jogo tinha virado.
Não era só a roupa que eu vestia ou o salto que ecoava pelo mármore frio daquele apartamento. Era o que pulsava dentro de mim. O peito apertado, o sangue fervendo, os olhos enxergando tudo com uma nitidez cortante. O silêncio, antes reconfortante, agora parecia gritar. Cada quadro, cada móvel luxuoso, cada flor recém-colocada nos arranjos... tudo era mentira. Um cenário perfeito pra esconder podridão. E eu, pela primeira vez, via tudo sem o véu da ingenuidade.
A Lorena que saiu daqui dias atrás tinha medo de desapontar o pai. Queria proteger o nome da família. Vivia tentando se encaixar nas expectativas criadas por gente que nunca enxergou quem eu realmente era. Mas agora… agora não.
Eu tinha descido pro inferno e voltado com a alma em carne viva. Tinha olhado no olho do perigo, sentido a boca dele na minha, o toque bruto que me fez sentir mais viva do que qualquer tapete vermelho. Kaíque não era só um erro