Helena foi gentil ao servir a sobremesa; o cheiro doce se misturava ao calor do ambiente, mas eu estava cheia, o estômago revirando com a tensão do jantar. A briga de Victor com Lúcia ainda reverberava nos meus ouvidos, era estranho presenciar os dois trocando farpas. Naquele instante, entendi o quanto Lúcia não suportava o jeito controlador do Victor, principalmente em tudo que envolvia dinheiro e decisões da casa.
Quando terminei de beliscar o doce, vi Helena recolhendo as louças. Aproveitei a deixa, levantei delicadamente, sentindo o peso da sala, a densidade do ar, e fui em direção à escada. Cada passo ecoava, e meu coração acelerava com o som das vozes vindas do corredor do andar de cima.
— Você se acha o dono de tudo, Victor! — ouvi Lúcia gritar, a voz rasgada de fúria.
— E não sou? — Victor retrucou com desprezo, e até eu senti o cheiro metálico da irritação no ar.
— Eu que mantenho seus luxos.
— Eu não preciso dessas coisas!
— Não precisa? Tem certeza? — Ouvi o som de algo se