DIAS ATRÁS
O brilho azulado da tela era a única lâmina de luz cortando a escuridão do meu apartamento. Uma dor latejante se aninhava atrás dos meus olhos, mas a adrenalina era mais forte. O sono era um refúgio impossível depois daquela descoberta.
Minhas mãos tremiam sobre o teclado. Ainda faltavam peças, mas o contorno da imagem que se formava era nítido e aterrorizante. Tudo aquilo estava ali, bem debaixo do tapete de seda dos pés de Victor Calderón.
Lembrei-me das dezenas de cafés compartilhados com Clara depois do expediente, quando ela ainda era secretária dele. O cansaço nos seus olhos ia além do físico.
"Ele marca uma reunião crucial para as três, eu mobilizo toda a equipe, e às duas e cinquenta e cinco, um bilhete seco na minha mesa: 'Adiado. Trate disso.'", ela disse uma vez, o queixo trêmulo enquanto segurava a xícara. "E eu tenho que ligar para todo mundo, inventar uma desculpa elegante para o sumiço dele, me humilhar para manter a fachada."
Ela tentava disfarçar com prof