Laís
Quando a manhã abriu as janelas da cidade, os portais já exibiam o mesmo vídeo em ângulos diferentes: Felipe deixando o hospital em cadeira de rodas, o supercílio ainda marcado por curativo, a postura cuidadosa de quem conhece o teatro das aparências. Um repórter empurrou o microfone e ele sorriu devagar, escolhido a dedo: “Agradeço as mensagens. Preciso focar na minha recuperação. Mas, em breve, a cidade vai ouvir verdades importantes. Alguns casais não são o que parecem.”
A frase correu como fogo em capim seco. No grupo de bairro, emojis de sirene; no rádio da feira, comentários apressados; na timeline, certezas instantâneas. Enquanto eu lia, senti aquela velha sensação de ponte balançando: não pelo chão que falta, mas pelo vento que insiste.
Eduardo pousou o celular na mesa e ficou olhando o nada por um segundo a mais. — Ele saiu do hospital fazendo trailer. — disse, contido.
— E nós não vamos protagonizar a série que ele quer. — respondi, tentando manter a voz firme. — A g