Laís
Santa Amora acordou vestida de festa. As janelas tinham fitas amarelas, os ipês da praça pareciam ter florescido uma vez a mais só para hoje, e o sino da igreja tocou mais cedo, como se aquecesse a voz. Eu abri os olhos antes do despertador. O corpo sabia: era o dia do sim.
Rafaela invadiu o quarto batendo palmas e equilibrando uma bandeja com frutas e café.
— Hoje você come, bebe água e respira. Nessa ordem. — decretou, dramática.
Gabriela veio logo atrás com uma caixa nas mãos e o cabelo preso num coque perfeito.
— E hoje você deixa a gente mimar você. — sorriu, pousando a caixa sobre a cômoda.
Tia Zuleica e Dona Tereza entraram com passos de reza e sorriso de festa. Tereza encostou a mão fria na minha testa, como fazia quando eu era menina.
— Vai dar tudo certo, Laís. O resto a gente inventa depois. — disse, me entregando um lenço com bordado azul.
Zuleica abriu a caixa: o vestido. Leve, rendado, com um caimento que parecia entender meu corpo. Na cintura, um detalhe quase secr