Laís
A semana começou com pastas empilhadas sobre minha mesa. De um lado, os relatórios da ONG ainda exigindo revisão; do outro, orçamentos de cadeiras, tecidos e flores. Eu tentava manter a caligrafia firme nos dois, mas às vezes confundia: escrevia “receita prevista” na planilha do casamento e “flores do campo” no relatório de impacto. Sorri sozinha ao perceber, mas por dentro o cansaço me pesava.
Nanda entrou com seu andar decidido, batendo a pasta sobre a mesa.
— Licença da prefeitura sai amanhã. Já falei com dois secretários e um vereador que devia estar em outro lugar. Respirem, que não vai ter embargo.
Respirei. O alívio foi real, ainda que parcial.
Eduardo passava os dias entre computador e ateliê improvisado: convites, banners e ensaios de cores. Às vezes, ele se perdia em papéis coloridos como uma criança grande. “Se eu errar, dá pra fingir que é arte”, ele dizia. O sorriso dele era um bálsamo, mas também uma lembrança: eu não podia deixar a ansiedade engolir o que estávamo