Na segunda-feira, o clima havia mudado. Não o tempo — que seguia quente e com céu azul —, mas o ar ao redor de Laís. Algo invisível, mas presente, feito o cheiro de fumaça depois de um incêndio.
Ela percebeu logo cedo, ao abrir o celular. Três chamadas não atendidas de um número conhecido demais. Felipe. E uma mensagem curta, seca: “Precisamos conversar.”
Na ONG, tentou se concentrar, mas os pensamentos iam e vinham. Eduardo percebeu, mas respeitou o silêncio dela. Ele também vinha lidando com seus próprios sinais: Clara havia deixado uma carta na portaria da ONG. Manuscrita. Como se isso tornasse a insistência menos invasiva.
“Você pode até tentar me apagar, mas a cidade me conhece. Eu não vou sumir só porque você quer.”
Ele não respondeu. Não rasgou. Guardou. Tinha aprendido que certas coisas, quando escondidas, cresciam como mofo.
Ao final do expediente, Laís estava sentada na pracinha da frente da ONG quando ouviu o barulho do motor. Reconheceu o som antes mesmo de olhar: o carro