Meus olhos ardiam, mas não de sono. Ainda me sentia gelada por dentro, mesmo depois do banho quente, das roupas secas e das toalhas macias da Lena. Era como se a chuva tivesse atravessado a pele, como se tivesse me lavado por fora, mas não levado nada do que realmente doía.
Eu tinha voltado. Eu tinha conseguido. Ninguém veio me buscar. Ninguém me salvou. E pela primeira vez, isso não me doeu do jeito de sempre. Doeu de outro jeito. Doeu com uma clareza que machuca mais: eu precisava aprender a me salvar sozinha.
Vesti a blusa macia que a Lena havia deixado no encosto da cadeira. Ainda estava trêmula, mas sentia que precisava sair daquele banheiro, enfrentar o mundo real — ou o que restava dele. Respirei fundo antes de abrir a porta.
Lena se virou primeiro, os olhos atentos, ainda preocupados. Diogo estava ao lado da janela, olhando o escuro lá fora, e Bernardo… Bernardo se levantou da poltrona imediatamente ao me ver.
— Laura… — ele deu um passo na minha direção, com expressão