Eu havia defendido minha tese na UFRJ.
Era oficialmente mestre em Psicologia.
Fechei os olhos por um instante ao lembrar da banca, das perguntas, da minha voz sustentada pela força de tudo que vivi até aqui. O auditório já estava vazio, mas o eco daquela conquista ainda reverberava dentro de mim. Não era apenas o fim de um ciclo acadêmico era o encerramento de uma versão minha que eu já não carregava mais.
De volta ao apartamento, abri as janelas da sala e me deparei com a vista que por tantos anos foi o meu abrigo — e também o meu campo de batalha. A cidade se estendia à frente, pulsando viva e indiferente como sempre. As luzes dos carros, o burburinho dos prédios, o cheiro leve de café vindo de algum lugar da rua de baixo.
Esse lugar tinha me visto quebrar, me reconstruir, fingir força, descobrir minha verdade. Tinha me visto sozinha, acompanhada, esperançosa e em ruínas. Era estranho pensar que, embora tudo ainda estivesse igual ao que sempre foi, eu já não era mais a mesma.
— Você