Capítulo 04 – O Filho da Patroa
Aurora Eu estava organizando a louça do café da manhã quando ouvi passos firmes ecoando no piso de mármore. Olhei por instinto, esperando ver o mordomo ou talvez a dona Glória. Mas meu corpo paralisou no mesmo instante. Ele. O homem da noite passada entrou na cozinha como se o mundo não tivesse virado de cabeça para baixo. Vestia uma camisa branca impecável, com os primeiros botões abertos, revelando um toque bronzeado no peito e aquele mesmo perfume amadeirado, intenso e viciante. O mesmo que ficou na minha pele por horas depois que ele foi embora. Meu coração deu um salto doloroso no peito. Eu não podia estar vendo aquilo. — Bom dia — ele disse, como se fôssemos dois estranhos. Seu olhar me percorreu de cima a baixo com a naturalidade de quem já conhecia cada curva do meu corpo. — Bom dia — respondi baixo, tentando disfarçar a mão trêmula enquanto segurava uma xícara. — Aurora, este é meu filho mais velho, Vicenzo — disse dona Glória, entrando logo atrás dele, sorridente. — Ele ficará hospedado conosco por tempo indeterminado. Espero que o trate com o mesmo cuidado que tem conosco. Eu senti o chão sumir. Ele me olhou nos olhos, e vi a exata expressão de surpresa misturada com desejo contido. Vicenzo. O filho da patroa. Meu novo patrão. A noite que eu passei com um desconhecido agora tinha nome. E um sobrenome que me colocava em perigo. Ele se aproximou devagar, como se quiséssemos manter o segredo só nosso. — Nos conhecemos ontem. — disse ele, em um tom que só eu consegui ouvir. — Foi inesquecível. Meu corpo inteiro arrepiou. E o pior? Eu queria de novo. — Como foi a festa, Aurora se divertiu? — dona Glória perguntou curiosa. — Me diverti. — disse gaguejando, com o coração acelerado e as pernas bambas. Passei o dia inteiro como um zumbi, errando os corredores da mansão com uma ansiedade que roía meu estômago. A cada passo, sentia meu coração ameaçar explodir. Ele estava ali. Em algum lugar dentro daquela casa. E eu tinha dormido com ele. Era difícil acreditar que tudo aquilo era real. Uma parte de mim ainda queria fingir que tinha sido só um sonho proibido, uma fantasia criada pela minha solidão e o efeito do vinho caro que tomei na festa. Mas ele é mesmo o filho da patroa, o filho ausente, o mais velho e mais misterioso. Meu celular não parava de vibrar com mensagens das meninas. Desde que fugi da festa, ninguém soube mais de mim. Uma ligação atrás da outra, todas ignoradas. Eu não podia contar a ninguém o que tinha acontecido. Como contar que entreguei minha virgindade para um desconhecido e agora descobri que ele era, nada menos, que o filho da minha patroa? O nome dele era Vicenzo. Vicenzo. O homem da minha primeira vez. O mesmo que agora era meu patrão. Durante o dia, tentei manter a rotina. Arrumei as mesas com capricho, conferindo cada detalhe. Mas tudo dentro de mim era caos. Tensão. Um turbilhão que explodia a cada passo que eu ouvia no andar de cima. Era noite, quando ele apareceu e me encurralou no corredor. Alto. Impecável num terno escuro. O mesmo olhar penetrante da noite passada. E o mesmo perfume, que me fez arrepiar inteira. Meus olhos encontraram os dele. E, por um instante, o mundo parou. — Então é aqui que você trabalha. — ele disse, a voz baixa e carregada de um sarcasmo sutil. — Interessante. Senti o rosto queimar. — Senhor Vicenzo. — tentei manter a postura. Ele deu um passo em minha direção, sorrindo de lado. — Senhor? Agora sou “senhor”? — Foi um engano — sussurrei, envergonhada. — Aquela noite eu não sabia quem você era. Ele riu. Um riso grave e cortante. — E se soubesse, não teria me deixado te tocar daquele jeito? Engoli em seco, o coração disparado. Queria correr, gritar, negar tudo. Mas meu corpo lembrava. Cada toque, cada beijo, cada suspiro. E ele também lembrava. — Você devia me esquecer — tentei me firmar, com a voz trêmula. — Nada disso devia ter acontecido. Ele deu mais um passo. Agora, tão perto que eu podia sentir o calor de seu corpo. — Pena que eu não gosto de ser esquecido — disse, os olhos ardendo. — E você, Aurora, me deixou com vontade de mais. Uma mistura de medo e desejo me fez estremecer. Vicenzo me olhava como se pudesse me despir com os olhos. Como se já soubesse que eu ainda sonhava com ele, mesmo tentando negar. — Eu posso perder seu emprego se insistir nisso — sussurrei. — Você pode perder o juízo se continuar me olhando assim — ele rebateu, com firmeza. A tensão entre nós era cortante. Se Glória aparecesse agora, tudo estaria perdido. Mas, no fundo, uma parte de mim queria que ele me puxasse novamente. Que ignorasse as regras. Que me desafiasse. Porque, mesmo com tudo errado, uma coisa era certa. Ele me queria. E eu ainda queria mais dele