Capítulo 03 Entrega
Aurora O quarto era simples, alugado por hora, discreto e silencioso. A porta se fechou com um clique baixo, e de repente, era só eu e ele. Meu corpo ainda ardia. Minha pele formigava como se cada célula minha soubesse que algo importante estava prestes a acontecer. Ele me olhou como se quisesse guardar aquele momento para sempre. A luz amarelada do abajur deixava tudo mais íntimo, mais real. — Você ainda pode desistir — ele disse, com a voz grave, os olhos presos nos meus. — Eu não quero — respondi, sincera. Aproximou-se devagar, como se temesse me assustar. Passou os dedos pela minha bochecha, traçando o contorno do meu rosto, depois deslizou até meu pescoço, meu ombro, e então segurou a ponta da echarpe, puxando-a com delicadeza. — Você é linda — murmurou, tirando a peça de tecido e deixando-a cair ao chão. Meus dedos tremiam ao tocar os botões de sua camisa. Desabotoei um por um, revelando o peito largo e definido. A pele dele era quente, o cheiro delicioso de seu perfume se misturava ao aroma do meu próprio desejo. Ele me beijou de novo, mais profundo dessa vez. Suas mãos desceram pelas minhas costas, depois pela cintura, até alcançarem o zíper do vestido. Com um movimento suave, ele o puxou para baixo, fazendo o tecido escorregar pelo meu corpo até cair aos meus pés. Fiquei ali, de lingerie, sentindo o ar tocar minha pele como nunca antes. Ele me olhou como se eu fosse arte. — Está com medo? — ele perguntou, a testa colada à minha. — Não. — sussurrei. — Mas estou inteira. Pela primeira vez. Seus olhos se fecharam por um instante. Quando os abriu, estavam diferentes. Mais intensos, mais escuros, como se aquela confissão tivesse mexido com algo dentro dele. — Então eu vou cuidar de você — prometeu. — Como ninguém nunca cuidou. E ele cuidou. Me deitou com carinho, deslizou os dedos pela minha pele como se aprendesse meu corpo com toque e intenção. Beijou meu pescoço, meus ombros, desceu pela curva dos meus seios com lábios famintos, mas suaves. Minha respiração estava descompassada, meu corpo se contorcia, respondendo a cada novo estímulo. Senti meu ventre aquecer, minhas pernas se entreabrirem sem pensar. Quando ele se posicionou sobre mim, nossos olhos se encontraram. — Me olha — pediu. — Não fechei os olhos. — concordei com um aceno. E então, com um movimento controlado e profundo, ele entrou em mim. A dor veio rápida, aguda, mas logo deu lugar a uma nova onda. Algo quente, intenso, que me fez arfar. Ele parou, respeitando meu tempo, e me beijou até eu relaxar. Movimentou-se com cuidado no início, atento aos meus sinais. Mas aos poucos, o ritmo aumentou, o calor cresceu, e nós nos encontramos ali, naquele compasso, naquela entrega. Ele sussurrava em meus ouvidos. Era desejo. Era cuidado. Era loucura. Meu corpo arqueava a cada investida. A cada toque. A cada gemido contido. E então veio o clímax quente, intenso, arrebatador. Me desmanchei nos braços dele, com as pernas trêmulas, o peito ofegante, o coração acelerado. Ele me abraçou forte depois, como se quisesse me proteger do mundo. E eu, pela primeira vez, me senti inteira. Plena. Desejada. E também, estranhamente, triste. Porque parte de mim sabia que aquilo não terminaria ali. E que, muito em breve, aquele estranho não seria mais só um homem misterioso numa festa. Seria a minha maior saudade. Ele foi gentil, intenso presente. Me tocou como se quisesse memorizar cada pedaço de mim. E eu? Eu me entreguei. Por inteiro. Pela primeira vez, me permiti esquecer o mundo. Naquela noite, fui apenas uma mulher nos braços de um homem. Sem passado. Sem patrões. Sem regras. Como esquecer? Horas depois, já amanhecendo, saímos do quarto sem trocar promessas. Ele beijou minha testa e foi embora antes de eu perguntar seu nome. _______________ Quando abri a porta dos fundos da mansão naquela manhã, me deparei com algo que gelou minha espinha: um blazer masculino, caro e de grife, jogado sobre uma das banquetas da cozinha. Não era do mordomo, nem do motorista. Eu soube na hora o que aquilo significava. O filho mais velho da patroa havia, de fato, chegado. O mesmo que ninguém se deu ao trabalho de me apresentar. O perfume era o mesmo do homem que passou a noite comigo.