5 – Escolhas e Vestidos

Os dias seguintes foram uma mistura de rotina e provocação. Aurora chegava sempre quinze minutos antes do horário, ocupava a cadeira de apoio ao lado da mesa de Enzo — nunca de frente, como em outras empresas — e passava o dia lidando com planilhas, reuniões silenciosas e o peso constante de um olhar.

O olhar dele.

Ele raramente falava fora do necessário. Mas quando falava, cada palavra parecia escolhida para tirar o chão dela. Um elogio sussurrado, uma pergunta ambígua, um olhar que deslizava por seu pescoço quando ela achava que ninguém estava prestando atenção.

A tensão era constante.

A regra mais clara era não falar sobre o contrato. Nem nas mensagens, nem em voz alta. Era como se aquilo só existisse entre as quatro paredes da sala espelhada. Fora dali, eles eram apenas chefe e assistente.

— Senhorita Santini, preciso que me acompanhe esta noite — disse Enzo numa quinta-feira, no fim do expediente.

Aurora olhou para ele por cima do monitor, tentando esconder o frio na barriga.

— Algum compromisso oficial?

— Um coquetel beneficente. Muitos flashes. Muitos tubarões. Preciso de alguém com aparência impecável e capacidade de permanecer calada quando necessário.

— Parece uma descrição adorável para “namorada de aluguel”.

Enzo sorriu, sem desviar os olhos dos documentos.

— Chame como quiser. Você vai receber por isso, de qualquer forma.

— O senhor sempre mistura funções?

— Apenas com funcionárias com contrato completo.

Aurora suspirou, lutando para manter o tom neutro.

— Que horas?

— O carro estará na sua porta às dezenove horas. — Ele tirou uma caixa longa e retangular da gaveta. — Isso estará esperando por você ao chegar em casa.

Ela arqueou as sobrancelhas.

— O que é isso?

— Seu vestido. Escolhido por mim. Experimente. Se não servir, providenciarei outro.

Aurora cruzou os braços, desconfiada.

— Está escolhendo até minhas roupas agora?

— Só quando eu vou tirar elas depois.

O silêncio entre eles ficou espesso. Ela o encarou com uma mistura de raiva e... excitação. Enzo sequer piscou.

— Mais alguma exigência? — perguntou, a voz mais baixa do que pretendia.

— Cabelo preso. Maquiagem leve. Salto alto. E sem sutiã.

Ela não reagiu de imediato. Parte dela queria dar as costas, jogar o contrato na cara dele e sair. Mas outra parte… a que ela estava tentando esconder desde o primeiro dia… queria obedecer. Queria ver até onde aquilo podia ir.

— Entendido, senhor Salvatore.

Aurora chegou em casa e encontrou a caixa sobre sua cama, exatamente como ele dissera. Sofia havia deixado um bilhete:

         “Achei que era um sapato caro. Não abri. Mas quero detalhes depois. :)”

Ela sorriu e abriu a caixa com cuidado. Dentro, envolto em papel manteiga preto, havia um vestido de seda escura, com alças finíssimas e um corte que abraçava o corpo como uma segunda pele. O tecido era tão leve que parecia pecado.

Ela experimentou. E o espelho não mentiu: estava provocante. Mas elegante. Uma mistura exata entre o que ela achava que nunca poderia usar e o que sempre sonhou vestir.

Às 19h em ponto, o carro estava esperando.

O motorista abriu a porta para ela e, minutos depois, Aurora estava diante do luxuoso Grand Belvedere Hotel, iluminado por flashes e tapetes vermelhos.

Quando entrou no salão, Enzo já estava lá.

Um terno preto sob medida. Gravata de seda. Cabelos arrumados com precisão. Um deus moderno em meio a executivos, investidores e socialites vestidos para impressionar.

Os olhos dele a encontraram instantaneamente.

E ali, naquele segundo, Aurora soube que havia superado as expectativas.

Ele caminhou até ela com passos lentos, deixando o olhar deslizar por cada curva revelada pelo vestido.

— Perfeita — disse, com a voz baixa. — Quero todos olhando para você. E sabendo que não podem tocar.

Ela sentiu o corpo inteiro reagir.

— Isso faz parte das suas regras também?

— Essa parte... é puro prazer.

Ele estendeu o braço, e ela aceitou. Caminharam entre os convidados com a elegância de um casal entrosado — mesmo que, oficialmente, não fossem nada.

Durante o evento, Enzo falou pouco. Mas tocava sua cintura com frequência, orientava com pequenos gestos, e seus olhos escuros buscavam os dela sempre que alguém se aproximava demais.

Em um momento, enquanto ela se servia de uma taça de vinho branco, ele inclinou-se e sussurrou atrás dela:

— Quando esse vestido cair, quero ser eu o responsável.

Aurora fechou os olhos por um segundo, tentando manter a compostura.

Mas dentro dela, tudo queimava.

E o pior — ou melhor — é que ela não queria apagar esse fogo.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App