230. Família
Lúcia Donovan
O toque do telefone quebrou o ar tranquilo do quarto.
Meu corpo reagiu antes da razão e o coração disparou, por um instante todas as cores se dissolveram. Vi o olhar de Nate mudar, aquele brilho calmo cedendo espaço a uma tensão familiar demais. O tipo de tensão que o corpo reconhece antes mesmo que a boca pergunte.
“É do hospital,” ele disse, e o mundo pareceu ficar pequeno.
Sentei-me de imediato, o lençol caindo pelo colo. “Aconteceu alguma coisa com o Samuel?”
Ele balançou a cabeça, tentando me acalmar, mas a mão apertando o celular o denunciava. “Calma, amor. A enfermeira disse que está tudo bem… Eles querem que a gente vá até lá. Querem tentar o primeiro contato direto entre vocês.”
Por um segundo, não entendi. “Contato? Mas eu já toquei nele...”
“Dessa vez é diferente,” Nate respondeu, a voz já mais firme. “Eles acham que o Samuel está sentindo falta. Disseram que ele reage quando escuta sua voz, e que seria bom tentar pegá-lo no colo hoje.”
A frase me atravessou