229. Café e ligação
Nate Donovan
Acordei antes do sol tocar de verdade as janelas. O quarto tinha aquele silêncio raro, quase uma bênção. Lúcia dormia de lado, o cabelo espalhado no travesseiro, a respiração calma marcando um ritmo que eu parecia ter esquecido que existia. Por alguns segundos, fiquei só olhando. A pele dela tinha voltado a ter cor. O vinco no meio da testa tinha sumido. O caos lá fora parecia ter aceitado ficar do lado de fora da nossa porta por uma noite.
“Tá tudo começando a se estabilizar,” pensei, e um sorriso veio sem pedir licença.
Passei a ponta dos dedos de leve no braço dela, um carinho que não queria acordá-la, só agradecer. Lembrei de tudo que atravessamos: o susto, a UTI, a dor que chegou sem pedir, a casa tentando não desabar… e, ainda assim, a gente aqui, respirando juntos. Deu uma vontade imediata de fazer algo simples, certo, sem barganhas: levar café na cama pra ela. Pequenos gestos que seguram o mundo no lugar.
Saí devagar, peguei a primeira camiseta que achei e calcei