Clara acordou no dia seguinte com a sensação de que algo dentro dela havia mudado. Não era uma grande transformação, mas havia algo leve, algo que parecia indicar que as coisas, aos poucos, estavam começando a se ajustar. O encontro com Gabriel, embora simples, havia lhe dado uma perspectiva diferente. Ela sabia que não tinha todas as respostas, mas estava disposta a seguir em frente, a caminhar passo a passo, sem pressa. O sol ainda estava fraco quando ela saiu de casa, com a mente agitada. Não sabia exatamente o que iria fazer, mas tinha a sensação de que as decisões que tomaria dali em diante iriam moldar seu futuro de uma maneira que não poderia mais ser ignorada. Ao chegar ao trabalho, Clara se sentiu mais calma do que nos dias anteriores. A rotina parecia confortável, e, de certa forma, ela gostava disso. Havia algo na previsibilidade dos dias que lhe trazia um tipo de paz, algo que a fazia sentir que, pelo menos, estava no controle de sua vida. Mas, no fundo, ela sabia que a
Os dias seguintes passaram de forma estranha para Clara. O trabalho, que antes parecia ser o seu refúgio, agora a fazia sentir-se dividida, sem saber o que fazer com a avalanche de emoções que surgiram após o encontro com Gabriel. Por mais que tentasse focar no presente, uma parte dela ainda estava presa no passado, nas memórias que construíra ao lado dele, nas promessas não cumpridas e nas palavras que ainda ecoavam em sua mente. Naquele dia, Clara foi para o trabalho mais cedo do que o habitual. Queria estar ocupada, queria que os minutos passassem rapidamente para que pudesse, de alguma forma, se distrair do que estava acontecendo dentro de si. Ela sabia que a vida estava prestes a dar um giro inesperado, mas ainda não sabia se estava pronta para isso. O peso das escolhas parecia estar em seus ombros, e ela se sentia cansada de ter que tomar decisões difíceis o tempo todo. Logo que entrou no escritório, Clara percebeu que algo estava diferente. O ambiente estava mais movimentado
O vento do parque já não parecia tão suave para Clara. O ar fresco que antes trazia um alívio, agora parecia mais pesado, como se estivesse carregando o peso das escolhas que ela teria que fazer. Ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que tomar uma decisão. Gabriel estava novamente em sua vida, e o que antes parecia ser uma surpresa agora começava a parecer inevitável. Clara olhou para a mensagem que Gabriel havia enviado e, por um momento, pensou em ignorá-la. Mas sabia que isso não a faria seguir em frente. Na verdade, ela não sabia o que a faria. O passado estava novamente à sua porta, batendo forte, enquanto ela tentava desesperadamente encontrar uma maneira de viver no presente. Ela suspirou, guardou o celular na bolsa e ficou mais alguns minutos observando o movimento ao redor. Pessoas caminhando, crianças brincando, casais andando de mãos dadas. A vida seguia, indiferente ao turbilhão de sentimentos que Clara sentia dentro de si. Mas ela sabia que não poderia deixar o
O escritório estava mais silencioso do que de costume naquela manhã. Clara chegou cedo, como sempre, mas havia algo diferente no ambiente. Talvez fosse o fato de que ela estava carregando uma decisão consigo, uma decisão que ainda não sabia como tomar, mas que, de alguma forma, já começava a afetar tudo ao seu redor. Gabriel havia ido embora, como combinado, sem pressioná-la, mas Clara sabia que a pressão não vinha dele. A verdadeira pressão estava dentro de si mesma. Ela tinha que lidar com os sentimentos, com os fantasmas do passado, e, acima de tudo, com o futuro. Ele estava ali, à frente dela, esperando por algo que ela ainda não sabia definir. Ela se sentou em sua mesa, mas não conseguiu focar no trabalho. O dia parecia interminável. As palavras de Gabriel ainda ecoavam em sua mente: "Eu nunca te esqueci." O que isso realmente significava? Ela se perguntou. Ele estava falando de amor, de arrependimento, ou de algo mais? Ela não tinha respostas para essas perguntas, e o silêncio
O ar da manhã estava fresco e leve, com a luz suave do sol entrando pela janela do apartamento de Clara. Ela se levantou da cama com os pensamentos ainda inquietos, sabendo que mais um dia seria um teste para suas emoções. As palavras de Gabriel ainda ecoavam em sua mente, mas agora havia algo diferente. A sensação de estar à beira de uma mudança, de uma decisão, parecia mais tangível do que nunca. Ela sabia que não poderia mais adiar o inevitável. Olhou para o espelho e se observou por alguns segundos. Os olhos estavam cansados, mas havia uma determinação neles que ela não conhecia antes. Clara sabia que a decisão que tomaria não era apenas sobre Gabriel ou sobre o que ele representava em sua vida. Era, acima de tudo, sobre quem ela era e o que realmente queria para o seu futuro. Ela passou o dia de ontem evitando olhar diretamente para a questão. Mas agora, com o amanhecer de um novo dia, ela não podia mais negar que a resposta estava dentro de si mesma. Ela já sabia o que queria
O cheiro do café recém-passado se espalhava pela casa, misturado ao som distante da televisão ligada na sala. O relógio da cozinha marcava 7h32 quando Clara desceu as escadas, ainda vestindo seu roupão branco de algodão, os cabelos castanhos presos em um coque frouxo e os olhos inchados de sono. A casa onde vivia com os pais e os dois irmãos mais novos era espaçosa, mas os sinais de desgaste nas paredes e nos móveis já denunciavam os tempos difíceis que vinham enfrentando. Clara havia completado 22 anos no mês passado. Cursava Letras na faculdade pública da cidade, mas há quase um semestre havia trancado a matrícula para ajudar nas contas de casa. Trabalhava meio período em uma livraria no centro, e passava o resto do dia entre panelas, roupas para lavar e a tentativa de manter alguma ordem na rotina dos irmãos adolescentes, Lucas e Henrique. A voz de sua mãe, Irene, veio da cozinha, como um sussurro carregado de cansaço: — Bom dia, filha. Dormiu bem? — Mais ou menos — respondeu C
A noite caiu pesada sobre a cidade, como se soubesse que algo havia mudado irremediavelmente na vida de Clara. Ela não jantou, não respondeu às mensagens dos irmãos batendo à porta, nem saiu do quarto. O celular permaneceu jogado sobre a escrivaninha, desligado. As horas passaram em silêncio, exceto pelos ruídos abafados da televisão na sala. Quando o relógio marcou três da manhã, Clara ainda estava acordada, os olhos fixos no teto, o peito queimando em um misto de raiva, medo e impotência. Na manhã seguinte, ela despertou com a luz invadindo o quarto pelas frestas da cortina. O rosto inchado, a garganta seca. Levantou-se como quem carrega o peso do mundo nos ombros. Ao sair do quarto, encontrou a casa vazia. Um bilhete preso com ímã à geladeira indicava que a mãe havia levado os irmãos à escola e o pai tinha uma reunião importante. A caligrafia era apressada, quase ilegível. Clara não se deu ao trabalho de respondê-los. Serviu-se de café, o mesmo de ontem, requentado, e tentou acal
Clara passou o restante do dia como se estivesse vivendo um sonho lúgubre. Após a conversa com Enrico, voltou para casa com o mesmo motorista, mas não conseguiu sequer apreciar o trajeto. A cidade parecia mais distante, mais cinza. Sua casa, antes pequena e acolhedora, agora lhe dava a sensação de confinamento. Assim que entrou, encontrou a mãe preparando o almoço, os irmãos rindo no sofá da sala, e o pai... ausente. De novo. Aquilo parecia se tornar padrão. — Clara? — perguntou a mãe, sorrindo, com o rosto cansado e olhos sublinhados por olheiras. — Onde esteve, querida? — Eu... fui resolver umas coisas — respondeu, hesitante. — Com o papai. A mãe não questionou. Talvez já estivesse acostumada com os segredos que circulavam por aquela casa como fantasmas. Clara subiu para o quarto, sentindo-se mais só do que nunca. Naquela noite, não dormiu. E no dia seguinte, como prometido, o contrato chegou. Foi entregue por um mensageiro formal, dentro de uma pasta de couro preta, com uma c