O domingo amanheceu preguiçoso e dourado em Candeias. Na pequena cozinha de Helena, o cheiro de café forte se misturava ao da maresia, e o som da risada dela preenchia o espaço. Era uma cena de uma domesticidade tão simples e profunda que parecia um ato de rebelião em si. Dante, o homem que comandava salas de reuniões com um olhar, era surpreendentemente desajeitado ao tentar virar uma tapioca na frigideira.
— Você vai queimá-la — disse Helena, rindo enquanto roubava a espátula da mão dele. — Deixe isso com a especialista.
— Em minha defesa, meus talentos residem em uma escala um pouco maior do que a culinária de café da manhã — ele retrucou, encostando-se no balcão para observá-la.
— Ah, sim, o grande titã dos negócios, derrotado por um pouco de goma de mandioca — ela o provocou.
Ele sorriu, um sorriso genuíno que alcançava seus olhos, transformando seu rosto.
— Eu me rendo. Completamente.
Eles comeram sentados nos degraus da oficina, olhando para a rua tranquila. A paz era palpável.