A manhã tinha tudo para ser tranquila. Eu estava na mesa da cozinha, com meu café, o notebook aberto e Bento esparramado ao meu lado, exibindo um desprezo absoluto por qualquer coisa que não envolvesse a própria soneca.
Estava tão concentrada revisando um texto, que só percebi a presença na porta quando ouvi uma voz familiar:— Isso é jeito de receber visitas?Quase derrubei a caneca.Pedro estava encostado no batente, usando uma camiseta simples, um boné e aquele sorriso que tinha o péssimo hábito de aparecer sem pedir licença.— Pedro! — exclamei, tentando esconder o susto.— Você não sabe o que é mandar mensagem antes?— Ia perder a graça — respondeu, entrando como se minha casa fosse uma continuação natural da dele.Bento acordou, mas em vez de se esconder como sempre fazia com estranhos, se aproximou dele.Traidor.— Bom dia pra você também — ele disse, se abaixando para coçar a cabeça do gato