PONTO DE VISTA DE ELISE
"Anda logo, Troy, a gente precisa voltar antes que percebam." Termino de abaixar a saia do uniforme de garçonete do bar onde trabalho.
Troy coloca a camisa, ajeita o cabelo desgrenhado e me lança um sorriso. Tento sorrir de volta, mas meu estômago está embrulhado. Sei que, quando sair desse depósito, vou encarar os olhares dos outros funcionários. Olhares de pena. E nojo.
Ninguém sabe que estamos juntos há dois anos. Na verdade, ninguém sabe nem que eu existo fora daqui. Sou só a funcionária que, de vez em quando, desaparece com o chefe.
Antes que ele abra a porta, respiro fundo.
"Quando você vai me apresentar pra sua família como sua namorada?"
Troy congela. Me olha como se eu tivesse dito algo absurdo.
"Já falamos sobre isso, não falamos? Muito em breve você vai conhecer minha família."
Seguro a alça da saia com os dedos, tentando não parecer tão decepcionada.
"Muito em breve..." repito, com um sorriso vazio. "Você disse isso há seis meses, Troy. E eu ainda sou a funcionária que dorme com o chefe."
Ele ergue uma sobrancelha e ri, incomodado com meu tom.
"Ora, mas isso não deixa de ser verdade, não é? Sempre que precisa de dinheiro, eu dou."
Sinto o peito apertar. Dói ouvir assim, mesmo sabendo que ele não está errado. Desvio o olhar.
Troy suspira, ajeita a gola da camisa.
"Não começa com isso agora, vai. Você sabe que eu ajudo porque quero."
"Não é isso..." sussurro. "Eu só queria ser mais do que isso pra você."
Ele não responde. Me lança um olhar frustrado, abre a porta e sai como se nada tivesse acontecido.
Fico ali por alguns segundos, juntando forças pra sair. Mesmo depois de dois anos, ainda sou só uma garota que dorme com o chefe.
Ele me dá um beijo rápido na bochecha antes de desaparecer pelo corredor:
"Preciso voltar pro bar."
Aceno, forçando um sorriso que ele nem vê. Coloco uma caixa de cerveja contra o quadril, pronta pra sair, quando sinto o celular vibrar no bolso.
É minha irmã, Mel. Dez anos. Meu coração aperta.
"Mel?"
"Mana... a mamãe saiu de novo."
Fecho os olhos.
"Saiu pra onde?"
"Não sei... faz horas. Tô com fome, não tem nada pronto."
Coloco a caixa de volta. "Vou dar um jeito de ir aí, tá bom? Aguenta mais um pouquinho?"
"Consigo..." Mel hesita. "Mana... quando eu vou poder morar com você?"
A pergunta dela me corta. Respiro fundo.
"Mel, a mamãe ainda tem sua guarda. Eu não posso simplesmente te tirar de casa."
"Tudo bem. Tô te esperando."
Desligo. Passo as mãos no rosto e respiro fundo. Preciso cuidar da minha irmã.
No bar, Troy está ao telefone, rindo. Quando me vê, desliga.
"O que foi agora?"
"Preciso sair. Emergência na casa da minha mãe."
Ele suspira. "Vai cuidar da sua irmã de novo? Sua mãe deve estar bêbada por aí em Nova York."
Concordo, mordendo os lábios.
"Ela só tem dez anos. Está sozinha, assustada, com fome."
"Pode ir. Faltam dez minutos pro fim do seu turno."
"Obrigada."
Enquanto me afasto, percebo os olhares de outras funcionárias. Cochichos. Risadinhas.
"Era disso que eu estava falando." sussurro para mim mesma.
O meu sangue ferve nas minhas veias, e eu sei exatamente o que elas estão pensando: que eu tenho regalias por ser "a preferida" do chefe. A dor da injustiça me queima por dentro, mas eu mantenho a expressão impassível. No fundo, eu sei que talvez elas tenham razão. Não porque eu queira esse tipo de vantagem, mas porque Troy nunca deixa claro para ninguém que estamos juntos. E isso me faz parecer exatamente o que elas pensam: uma funcionária que dorme com o chefe para ter privilégios. Talvez eu deva aceitar que ele nunca vá assumir nosso relacionamento. Talvez seja o preço que eu tenho que pagar para ficar com ele? *** Quando saio do bar, percebo que já é tarde. A rua continua cheia, com pessoas rindo e conversando animadamente nas calçadas. A noite está fresca, e o cheiro de álcool e fritura enche o ar. Caminho apressada até uma rua próxima, mas para encurtar o trajeto até meu apartamento, decido cortar caminho pelo beco. A iluminação é
Depois de dirigir por cerca de quinze minutos, finalmente cheguei ao bairro mais decadente da cidade. É o tipo de lugar que muita gente teria medo de passar à noite — prédios antigos, ruas escuras e entregas suspeitas em cada esquina.O coração aperta no peito toda vez que preciso vir até aqui, mas não tenho escolha.Estaciono o carro e respiro fundo antes de sair, tentando reunir coragem para enfrentar mais uma noite complicada.Subo as escadas mal iluminadas e passo pelo corredor estreito até a porta do apartamento. Antes mesmo de bater, ela se abre, e Mel aparece correndo, os braços estendidos na minha direção."Elise!" Ela pula nos meus braços, e eu a seguro com firmeza, aproveitando o breve momento de tê-la comigo."Ei, baixinha. Tá tudo bem?" questiono, acariciando seus cabelos.Ela hesita, mordendo o lábio, e olho para ela com um pouco de medo da resposta."A mamãe chegou faz uns cinco minutos..." Mel sussurra. "Está bêbada de novo."Solto um suspiro pesado, sentindo meu estôma
"Mel..." começo, tentando não deixar minha voz falhar. "Eu estou tentando ganhar mais dinheiro pra gente, lembra? E ficar aqui não vai ajudar nisso." Ela desvia o olhar, terminando de lavar as cenouras com cuidado. Sinto a culpa me corroendo por dentro. Eu queria poder pegá-la e levá-la comigo agora mesmo, mas não é tão simples assim. "Mamãe não é tão má." Mel sussurra, com um brilho de esperança nos olhos. "Ela só precisa de ajuda." Fecho os olhos por um momento, tentando não deixar a frustração transparecer. "Eu sei, baixinha... Sei que ela ama você. Mas... às vezes as coisas ficam difíceis pra ela, sabe?" digo, tentando encontrar um equilíbrio entre a verdade e a proteção. Mel suspira, enxugando uma lágrima que escapa de um de seus olhos. "Eu amo a mamãe também... mas eu quero morar com você." Ela admite, com a voz baixinha, me passando tristeza. Seguro sua mão, apertando-a de leve. "Eu sei, Mel. Eu também quero isso. E prometo que vou fazer o possível pra que isso aconteç
O caminho até meu apartamento parece mais longo do que o normal, talvez porque meus pensamentos estejam distantes. Quando finalmente estaciono o carro na frente do prédio, um arrepio percorre minha espinha ao notar uma figura familiar parada na calçada. Troy está ali, com os braços cruzados e uma expressão que mistura irritação e impaciência.Desço do carro, tentando controlar a tensão que se instala no meu corpo. Assim que me aproximo, ele se inclina e me puxa para um beijo intenso e possessivo, como se quisesse deixar claro para qualquer um que estivesse olhando que eu sou dele.Empurro-o levemente pelo peito, desviando o rosto."Troy, já falei que não gosto desse tipo de exposição." Minha voz sai firme. "Você não precisa marcar território."Ele revira os olhos, claramente incomodado com minha resistência."Você é minha namorada, e isso é tudo o que importa. Quero que todos saibam disso." Ele arqueia uma sobrancelha. "E por que não atendeu minhas ligações?"Até ontem ele não queria
PONTO DE VISTA DE TRENT Pode parecer loucura, mas ontem à noite, enquanto eu estava ao telefone, uma garota cruzou meu caminho. Ela era a mulher mais linda que já vi em toda a minha vida. Seus cabelos caíam em ondas suaves pelos ombros, e seus olhos... Puta merda, aqueles olhos me fizeram sentir uma corrente elétrica passar por todo o meu corpo. Foi como se o tempo parasse por um instante e eu esquecesse completamente o que estava fazendo. Era algo raro, quase impossível, mas aconteceu. Quando nossos olhares se encontraram, senti algo que nunca acreditei ser real: amor à primeira vista. Sempre pensei que isso era coisa de filme, que não dava para se apaixonar por alguém sem sequer trocar uma palavra. Mas, porra, aconteceu comigo. Depois que ela passou por mim, algo em mim pareceu se encaixar. Então, fiz algo que talvez seja considerado uma perda de sanidade completa — segui ela. Assim que a garota desapareceu pela esquina, entrei no meu carro e a segui de longe, tentando não pare
PONTO DE VISTA DE ELISEDepois de lançar um último olhar para Iron, finalmente entro no prédio, tentando me acalmar. Meus passos ecoam pelo corredor vazio, e minha mente ainda está a mil. Quando chego ao meu apartamento, fecho a porta e me escoro contra ela, soltando um suspiro trêmulo.Eu realmente não acredito no que acabou de acontecer. Primeiro, Troy aparecendo do nada e agindo como um completo idiota, e então... Iron. Meu Deus, aquele homem. Só de lembrar dos olhos azuis intensos me encarando, sinto meu coração disparar de novo.Caminho até o sofá e me jogo ali, ainda tentando processar tudo. A ficha finalmente cai, e meu estômago se revira com a constatação: vou ter que enfrentar Troy no trabalho.Droga! Como eu faço isso? O que eu deveria dizer? "Desculpe por ter outro homem defendendo minha honra enquanto você me trata feito lixo"? É, claro que não. Talvez eu possa fingir que nada aconteceu. Como se fosse possível.E se ele vier tirar satisfações? Ou pior... se ele descontar e
Assim que Samanta sai, respiro fundo e tento me recompor. "Um mês... Parece uma sentença de morte." Preciso de um ar, então decido ir até o corredor para pegar as correspondências.Quando abro a porta, quase dou de cara com Iron. Meu coração dispara, e eu forço um sorriso, esperando que ele não tenha ouvido nada da conversa com Samanta."Será que falei alto demais? Droga... Esse cara acabou de chegar e já me viu vulnerável umas três vezes. O que mais falta?"Ele ergue uma sobrancelha na direção em que Samanta foi, mas, para minha surpresa, não pergunta nada. Ao invés disso, ele me dá um sorriso... Um sorriso que é quase um tapa no meu autocontrole."Ei", ele diz, casual, e eu tento fingir que não estou abalada."Olá", respondo, tentando soar natural.Mas, claro, meu corpo me trai. Quando tento puxar as cartas da caixa de correio, algumas delas caem no chão. Antes que eu consiga me abaixar, Iron já está ali, ajudando a pegá-las. Nossas mãos se tocam, e um choque percorre minha pele, qu
PONTO DE VISTA DE ELISEA noite chegou, e quando olhei para o relógio, vi que já estava quase na hora do meu turno no bar. Suspirei, tentando afastar a angústia que me acompanhava desde a visita de Samanta. Fui para o banheiro e tomei um banho rápido, deixando a água quente escorrer pelas costas enquanto organizava os pensamentos."Preciso ser forte", pensei, esfregando o couro cabeludo.Decidi que o melhor seria terminar com o Troy e torcer para que ele aceitasse sem escândalo — e, principalmente, que não me mandasse embora do bar. Era minha única renda. Sem ela, seria impossível garantir uma vida estável para a Mel. Eu ainda tinha esperança de conseguir a guarda dela, mas precisava de um plano melhor. O que fiz até agora não estava funcionando.Saí do banho e coloquei meu uniforme de garçonete, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo alto. Respirei fundo, tentando me convencer de que conseguiria fazer isso, e segui para o bar.Assim que entrei, vi o Troy atrás do balcão, flertando d