Capítulo dois

O meu sangue ferve nas minhas veias, e eu sei exatamente o que elas estão pensando: que eu tenho regalias por ser "a preferida" do chefe.

A dor da injustiça me queima por dentro, mas eu mantenho a expressão impassível. No fundo, eu sei que talvez elas tenham razão.

Não porque eu queira esse tipo de vantagem, mas porque Troy nunca deixa claro para ninguém que estamos juntos. E isso me faz parecer exatamente o que elas pensam: uma funcionária que dorme com o chefe para ter privilégios.

Talvez eu deva aceitar que ele nunca vá assumir nosso relacionamento. Talvez seja o preço que eu tenho que pagar para ficar com ele?

***

Quando saio do bar, percebo que já é tarde. A rua continua cheia, com pessoas rindo e conversando animadamente nas calçadas. A noite está fresca, e o cheiro de álcool e fritura enche o ar.

Caminho apressada até uma rua próxima, mas para encurtar o trajeto até meu apartamento, decido cortar caminho pelo beco. A iluminação é fraca, e o som abafado do bar vai ficando para trás.

Assim que chego ao final do beco, meus olhos captam um restaurante à frente. Ele é luxuoso e muito conhecido na cidade, o tipo de lugar em que eu nunca tive dinheiro para entrar.

Do lado de fora, há um homem extremamente bonito falando ao telefone, com uma expressão tensa e uma postura firme.

Ele é impressionante. A mandíbula bem marcada, os ombros largos e o físico impecável são de tirar o fôlego. Sem falar dos cabelos claros.

Ele está vestido com uma camisa social preta que parece ter sido feita sob medida, realçando cada linha do corpo definido.

Ele gesticula com a mão livre enquanto fala ao telefone, e mesmo sem ouvir o que diz, dá para notar a raiva em sua voz. O olhar dele está perdido no horizonte, como se estivesse prestes a perder a paciência com quem quer que esteja do outro lado da linha.

Mas então, quando estou a uma curta distância dele, seus olhos se fixam nos meus, como se sua atenção fosse atraída para mim por um ímã invisível.

Eu paro por um segundo, incapaz de me mover, e sinto uma corrente elétrica percorrer meu corpo. É uma sensação estranha, desconcertante, como se eu o conhecesse há muito tempo.

Puxo pela memória, tentando lembrar se já o vi em algum lugar, mas nada vem à mente. Tenho certeza de que nunca o conheci antes. Mesmo assim, há algo nele que desperta uma inquietação em mim — algo que parece íntimo, mas completamente desconhecido ao mesmo tempo.

Ele desvia o olhar para o telefone novamente, voltando a discutir com quem quer que esteja na linha. Sinto meu coração bater acelerado e continuo meu caminho, tentando ignorar o calor que ainda percorre minha pele.

Meu apartamento é a poucas quadras dali, e, por mais que eu tente afastar o pensamento, os olhos intensos daquele homem permanecem gravados na minha mente.

***

Subo as escadas estreitas do meu prédio, sentindo o cansaço pesar sobre meus ombros. Cada degrau parece mais alto que o anterior, e minha cabeça está cheia de preocupações e pensamentos embaralhados.

Assim que chego ao meu andar, destranco a porta e entro no pequeno apartamento. O ambiente simples, mas organizado, me recebe com um silêncio acolhedor. Solto um suspiro e jogo as chaves na mesinha ao lado da porta, tirando os sapatos antes de seguir para o quarto.

Troco o uniforme por roupas confortáveis: um moletom velho e uma calça larga. O tecido macio contra a pele me traz um alívio imediato. Puxo os cabelos para um coque bagunçado e volto para a sala, olhando ao redor.

O apartamento não é muito grande, mas é o meu espaço. Consegui alugá-lo por estar perto do trabalho, o que facilita os turnos cansativos no bar.

Mas, ao encarar as paredes vazias e os móveis antigos que consegui com tanta dificuldade, não paro de pensar em como tudo isso está longe do que eu sonhei um dia.

"Quando terminei a escola, eu tinha tantos planos... Tantos sonhos."

Pensei em fazer faculdade, trabalhar com algo que eu gostasse e dar uma vida melhor para mim e para Mel. Só que nada disso aconteceu. "Merda! Eu nem tive tempo para tentar."

Minha mãe nunca foi alguém em quem eu pudesse confiar. Ela sempre foi uma mãe solo, com duas filhas para cuidar e nenhuma condição psicológica para isso.

Quando o vício tomou conta da vida dela, eu não tive escolha. Precisava assumir a responsabilidade e garantir que Mel tivesse pelo menos o básico.

Consegui esse emprego no bar logo depois de sair da escola, e, mesmo que não seja o trabalho dos meus sonhos, ele paga as contas e mantém o apartamento. O suficiente para que eu consiga sobreviver e ajudar Mel sempre que posso.

Mas não importa o quanto eu me esforce, parece que estou sempre lutando contra a maré. Minha irmã continua presa em casa com uma mãe irresponsável e ausente, e eu... eu continuo tentando manter tudo em pé enquanto luto para não desmoronar.

Passo as mãos pelo rosto, tentando afastar o nó na garganta. Não posso me abater agora. Mel precisa de mim. E por mais que o mundo pareça estar desabando, eu preciso encontrar forças para continuar.

Olho para o celular na esperança de uma mensagem ou ligação de Mel. Talvez minha mãe tenha chegado? Mas nada. Pego uma garrafa de água na geladeira e me deixo cair no sofá, tentando organizar alguns dos meus pensamentos conflitantes.

"Talvez um dia eu consiga tirar Mel daquela casa. Talvez um dia eu consiga dar a ela a vida que sempre sonhei."

Mas, por enquanto, tudo o que posso fazer é continuar lutando e esperando que esse dia chegue logo.

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