Capítulo três

Depois de dirigir por cerca de quinze minutos, finalmente cheguei ao bairro mais decadente da cidade. É o tipo de lugar que muita gente teria medo de passar à noite — prédios antigos, ruas escuras e entregas suspeitas em cada esquina.

O coração aperta no peito toda vez que preciso vir até aqui, mas não tenho escolha.

Estaciono o carro e respiro fundo antes de sair, tentando reunir coragem para enfrentar mais uma noite complicada.

Subo as escadas mal iluminadas e passo pelo corredor estreito até a porta do apartamento. Antes mesmo de bater, ela se abre, e Mel aparece correndo, os braços estendidos na minha direção.

"Elise!" Ela pula nos meus braços, e eu a seguro com firmeza, aproveitando o breve momento de tê-la comigo.

"Ei, baixinha. Tá tudo bem?" questiono, acariciando seus cabelos.

Ela hesita, mordendo o lábio, e olho para ela com um pouco de medo da resposta.

"A mamãe chegou faz uns cinco minutos..." Mel sussurra. "Está bêbada de novo."

Solto um suspiro pesado, sentindo meu estômago se revirar. Antes que eu possa responder, a porta de um dos quartos se abre com força, e minha mãe aparece cambaleando, os olhos inchados e a expressão confusa.

"O que você está fazendo aqui?" ela pergunta, tentando focar o olhar em mim.

Seguro Mel mais firme, protegendo-a contra meu peito.

"O que eu estou fazendo aqui?" repito, com a voz dura. "Você sumiu de novo e deixou a Mel sem nada pra comer!"

Ela revira os olhos, tentando manter o equilíbrio enquanto se aproxima.

"Tá insinuando que eu sou uma mãe ruim?" A voz dela sai mais alta do que o necessário, e Mel se encolhe no meu colo.

"Não estou insinuando nada" respondo, tentando manter a calma. "Mas você sempre me liga pra pedir dinheiro pra bebida. Nunca me liga pra avisar que a Mel vai ficar sozinha porque você resolveu sair."

Ela ri, um riso amargo e vazio, e balança a cabeça como se eu fosse a errada.

"Tudo está bem..." ela murmura, com a voz arrastada. "A gente tá bem, eu e a Mel."

Um aperto toma conta do meu peito, e eu me lembro das vezes que já ouvi essas mesmas palavras dela. Quantas vezes eu me iludi pensando que ela mudaria.

"Você pelo menos foi ver a clínica de reabilitação que eu falei?" questiono, tentando manter a esperança viva de que realmente ela quer sair disso.

Ela se endireita, como se aquilo fosse um insulto.

"Não preciso de tratamento" ela discorda. "Eu posso parar quando eu quiser."

Fecho os olhos por um instante, lutando contra o desejo de gritar.

"Então faz isso pela Mel" digo, com a voz firme e os olhos marejados. "Ela não merece passar por isso. Ainda dá tempo de você consertar as coisas entre vocês duas."

De repente, minha mãe desaba em lágrimas, cobrindo o rosto com as mãos trêmulas.

"Eu sou uma péssima mãe... É isso que você pensa de mim, né?" ela chora, e eu engulo a dor que ameaça me consumir.

"Não..." suspiro, tentando me aproximar dela. "Não é isso. Só... só vai para seu quarto descansar. Eu cuido da Mel agora."

Ela continua soluçando enquanto cambaleia de volta para o quarto, batendo a porta atrás de si. O silêncio que fica para trás é pesado e sufocante.

Aperto Mel contra mim e sinto as lágrimas finalmente escaparem. "Não é justo que ela tenha que passar por isso."

"Não é justo que eu tenha que ser adulta quando tudo o que eu queria era poder ser só uma garota de vinte anos com sonhos e um futuro pela frente."

Mas não tenho esse luxo. Alguém precisa ser forte por Mel. E, se ninguém mais vai fazer isso, então vai ser eu.

Mesmo que às vezes pareça que o peso do mundo está me esmagando, eu vou continuar lutando por ela. Porque ela merece mais. Muito mais do que essa vida que minha mãe insiste em empurrar pra gente.

Levo Mel para a cozinha comigo, e ela caminha ao meu lado em silêncio, segurando firme na barra da minha blusa.

Coloco uma mecha do cabelo atrás da orelha e ofereço um sorriso tranquilo, tentando passar alguma segurança. Ela sorri de volta, mas seu olhar está carregado de preocupação.

Vou até a geladeira e abro, vasculhando o que sobrou. Alguns legumes meio murchos e uma garrafa de suco quase vazia.

A dor no meu peito só aumenta ao perceber como está tudo tão escasso. Vou ter que comprar algumas coisas amanhã, mesmo que isso signifique sacrificar mais um pouco do meu dinheiro.

"Tem sopa hoje?" Mel pergunta, observando atentamente meus movimentos.

"É... parece que sim" respondo, tentando soar animada. "Sopa de legumes vai cair bem, né?"

Ela concorda com a cabeça, mas seu olhar continua preocupado. Pego uma panela e coloco no fogão enquanto começo a lavar os legumes. Mel já sabe como me ajudar na cozinha, então vai até o armário e pega alguns copos e colheres, colocando tudo direitinho na mesa.

"Ei, Mel, quer lavar as cenouras?" pergunto, tentando distraí-la.

Ela concorda com um sorriso pequeno, e eu a ajudo a pegar um recipiente para colocá-los, orientando-a sobre como fazer.

O silêncio que se instala é pesado, mas eu tento focar na tarefa. Então, Mel finalmente quebra o silêncio com mais uma de suas perguntas que já ouvi tantas vezes que perdi a conta.

"Se eu não posso ir morar com você, por que você não pode voltar a morar conosco?"

Meu coração aperta e eu respiro fundo, sabendo que preciso escolher as palavras com cuidado.

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