Capítulo 05. Um plano perfeito.

— Onde você vai assim, toda arrumada? — minha prima perguntou quando me viu. Era a primeira vez em muito tempo que eu me arrumava, coloquei um vestido social branco, fiz um rabo de cavalo, já que meus cabelos estavam secos e sem brilho e passei maquiagem para disfarçar um pouco a cara de cansada.

— Vou me encontrar com o Augusto.

— Que Augusto? O Salvatore? Sério? — ela reagiu com cara de reprovação.

— Sério. Ele me convidou para jantar e eu aceitei.

— Isabela, eu quero muito que você siga em frente, mas não com o Augusto. O cara voltou para a cidade nao faz nem um mês e quase todo dia está na Lush com um monte de mulher que ele usa e depois descarta. 

— Não é um encontro romântico, é só um jantar entre dois colegas de escola. 

— Para começo de conversa, vocês nunca foram amigos na escola.

— Não se preocupe, não vai acontecer nada demais — disse eu, saindo de casa. Na verdade, não tinha tanta certeza assim.

Quando cheguei no restaurante, um dos mais caros da cidade, Augusto já me esperava. Assim que me viu, levantou-se e, como um perfeito cavalheiro, puxou a cadeira para que eu me sentasse.

— Pensei que desistiria. Fico feliz que tenha vindo — disse ele, com sorriso galanteador.

Augusto pediu uma garrafa de champanhe e o melhor prato da casa; os garçons o tratavam como um rei.

— Então, como quer fazer isso? — perguntei de forma direta, sem paciência para enrolação.

— Calma. Vamos apreciar o jantar primeiro, se esse acordo evoluir, temos que começar a parecer um casal de verdade.

— Duvido que vamos convencer alguém de que somos um casal de verdade.

— Claro que vamos. É só cuidar dos detalhes. Como eu disse: reencontro depois de anos, você com o casamento fracassado, reencontra o amor no antigo colega de escola e esse colega, um cafajeste, toma jeito ao perceber que o amor estava ali o tempo todo. É perfeito.

Augusto falava com carisma e confiança, ouvindo assim, a história até parecia convincente. Porém, quanto mais eu ouvia, mais absurda ela me soava.

Olhei em volta. O restaurante era chique, na adolescência, quando o negócio do meu pai ainda dava lucro, costumávamos frequentar lugares como aquele. Depois disso, eu não havia retornado a ambientes assim. No último ano, Carlos nem saía comigo, dizia que não suportava olhar para pessoas com família quando ele não tinha.

— Tudo bem? — Augusto perguntou, percebendo que eu tinha me distraido. 

— Tudo. Então essa é nossa história? E onde nos reencontramos? — mudei de assunto para evitar falar dos meus problemas.

— Na boate Lush. É bom manter a história próxima da verdade. Quando te vi, quis ajudar a se reerguer, rolou química, atração. — Ele disse “atração” me encarando de forma sugestiva, senti o rosto aquecer e desviei o olhar sem graça.

— E assim, do nada, vamos casar? Quem vai acreditar nisso? 

— Tem histórias assim o tempo todo.

— Você parece sempre ter uma resposta pronta.

— Sou empresário, eu preciso ter sempre uma resposta pronta. — A arrogância continuava a mesma.

— Qual o próximo passo, então? — perguntei.

— Semana que vem tem um jantar na casa do meu pai, aniversário da minha avó paterna. É a ocasião perfeita para te apresentar. Existe uma regra implícita, você só leva um namorado se for algo sério. Depois fazemos uma viagem só nós dois, então vem o pedido de casamento e, claro, a festa. Precisa ser uma festa à altura do meu nome, um grande casamento. Não sei como foi seu primeiro casamento, mas o nosso precisa ser melhor.

Ele já tinha tudo planejado, parecia que Augusto já vinha arquitetando seu próprio casamento há muito tempo, só faltava a noiva.

— Pelo visto você já tem tudo planejado. 

— Não tudo. Não tinha uma noiva — disse ele, olhando-me com intensidade.

— E por que eu? Você vive cercado de mulheres, deve ter um monte querendo ser sua esposa.

— Se eu aparecesse com uma mulher desconhecida dizendo que iria me casar, com certeza ninguém acreditaria. Mas alguém do passado é perfeito, todo mundo adora histórias de reencontro. E quando você falou do divórcio, tive certeza, a nossa história faz todo sentido. Ou já esqueceu que eu fui seu primeiro beijo? É o seu destino casar comigo.

Não queria lembrar que ele fora o primeiro garoto que me beijou, segredo que nunca contei para ninguém. Por incrível que pareça, Augusto também fingiu que nada havia acontecido entre nós. 

Era desconfortável ouvir ele falar de forma tão cínica sobre relacionamentos, para Augusto, casamento era apenas um meio para um fim. Talvez ele estivesse certo, afinal o amor não me levou a lugar nenhum.

— E qual é o seu plano? — ele perguntou de repente, interrompendo meus pensamentos.

— Meu plano?

— Sua vingança. A Isabela que eu conheci na escola era uma boa alma, doce, romântica, não levantava a voz para ninguém. Imagino que você não tenha experiência com vingança, certo?

O tom de Augusto me fez sentir idiota e eu não sabia o que responder.

— Imaginei — ele falou diante do meu silêncio. — Vou incluir algumas “aulas”. A primeira: vingança psicológica. Veja, um homem abandona a mulher para casar com outra, ele pode alegar o que quiser, mas jamais vai querer ver a ex melhor do que ele. Então, minha querida, você vai surgir deslumbrante com o vestido mais caro que meu dinheiro puder comprar, com um sorriso apaixonado no jantar da família mais rica da cidade, uma foto nas redes sociais e seu ex terá um colapso.

O desgraçado era brilhante, eu tive de admitir. Não sabia se aquilo surtiria efeito em Carlos, mas queria que surtisse. Com certeza Karen ficaria revoltada e com inveja, ela queria a vida de uma herdeira milionária, e a história de amor com Carlos não fazia sentido, ele não era milionário, mesmo tendo um negócio próprio.

— Tudo bem. Vamos em frente — falei com determinação.

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