O casamento do meu ex-marido com a Karen aconteceu tão rápido que a única explicação era que já vinha sendo planejado há muito tempo; os dois só esperaram até o último momento para contar.
Três meses depois, Karen se casou fazendo uma festa monumental, exatamente do jeito que eu sempre imaginei que seria a minha. Quando me casei com Carlos, passávamos por um momento difícil, sem dinheiro. Casamos no civil, e a “festa” foi, na verdade, um almoço em restaurante. A ideia era renovar os votos depois e fazer a festa que eu queria.
A família toda foi ao casamento, até minha tia, que acreditava no perdão. Só Camila permaneceu ao meu lado. Os amigos que eu tinha enquanto era casada desapareceram, todos estavam do lado do meu ex-marido, todos no casamento dele.
Eu não tinha nada. O dinheiro tinha acabado, e eu precisava de um emprego, sem dormir direito não conseguia me concentrar e o único trabalho que consegui foi de faxineira na Lush, a boate onde minha prima era bartender. Não era tão ruim, pelo menos eu não precisava falar com ninguém ou pensar muito. Ficava no banheiro feminino, tentando manter o lugar limpo.
Mais uma noite me concentrava em limpar o chão. Quanto mais tarde ficava, maior era a chance de alguém vomitar ou passar mal. O lugar estava lotado, mas mesmo assim eu o vi: iluminado pelas luzes piscantes, eu reconheceria aquele rosto em qualquer lugar. Ele chegou abraçado a duas mulheres lindas e foi direto para a pista dançar.
Augusto Salvatore. Playboy, mulherengo, safado. As fofocas diziam que o pai tinha ligações com a máfia — dinheiro e poder rolavam soltos, nem sempre de forma lícita. Eu não sabia o que era verdade e o que era boato. Só lembrava que Augusto estudou comigo no último ano do ensino médio e havia tirado a virgindade de quase todas as minhas colegas, menos a minha, porque eu nunca dei chance. Ele era bonito, conquistador e eu, na adolescência, queria magia, uma história de amor.
Já fazia mais de dez anos desde a última vez que nos vimos, mas pelo que percebi, ele continuava o mesmo, solteiro e mulherengo.
Deixei para lá e continuei meu trabalho de cabeça baixa. Mais algumas horas e meu turno acabava.
— Isabela, alguém derramou bebida no setor VIP, pode dar um pulo lá? — pediu José, o segurança.
Em geral, eu não limpava nada no salão, mas a sala VIP era sempre prioridade. Peguei o balde e o rodo e me preparei para passar pela multidão, era desafiador, mas em geral as pessoas abriam espaço. Na sala VIP, um grupo de mulheres ria, todas bêbadas e felizes. Tinham quebrado uma garrafa de uísque, do mais caro da casa.
Ninguém prestou atenção em mim. Precisei redobrar o cuidado para varrer os cacos de vidro e evitar que alguém se machucasse.
Não vi quando ele chegou. Era muito barulho, muita gente. Mas nossos olhos se encontraram. Eu usava uniforme, estava descabelada e provavelmente com uma cara cansada, mas Augusto me reconheceu mesmo assim, eu vi nos olhos dele.
Nada mais humilhante que reencontrar alguém da escola estando no fundo do poço.
— Isabela? Isabela Fiorentino? — ele perguntou chegando mais perto, talvez para confirmar.
— Já limpei tudo, não tem mais cacos — falei, saindo sem responder à pergunta.A garota que ele conheceu na escola era uma filhinha de papai, doce, que acreditava em contos de fadas e amor verdadeiro. Eu não queria ver pena nos olhos de ninguém, muito menos nos de Augusto.
Voltei para o banheiro e fiquei lá dentro até o fim do meu turno. Mas eu podia imaginar que Augusto não desistiria tão fácil, porque estava me esperando na saída, encostado em seu carro de luxo.
— O que você quer? — perguntei, quando ele abriu um sorriso cafajeste.
— Te dar uma carona. — Não precisa, vou chamar um aplicativo. — Não vou deixar você entrar no carro de um estranho.Eu queria discutir, mas não tinha forças. Estava exausta e acabei aceitando a carona.
Augusto parecia pensativo. Eu devia estar um caco, desgrenhada, os olhos fundos, mais magra e pálida do que nunca.
— Meu marido me largou para casar com a minha irmã, que está grávida dele. Além disso, ficou com a casa, a empresa e o carro. E ainda contou para todo mundo que eu sou uma louca que atormentava a vida dele. Estou falida, dormindo no quartinho dos fundos da casa da minha prima. Isso responde a pergunta que você ainda não fez — disparei, antes que ele começasse a especular.
— Pelo jeito sua irmã não mudou nada — ele disse, nem pouco espantado pelo que eu tinha acabado de contar.
— Se quer dizer que continua a mesma vagabunda, sim. — respondi amarga.Augusto não falou mais nada até pararmos na frente da casa da minha tia. Mandei mensagem para Camila, avisando que já tinha chegado em casa. Sem vontade de bater papo, agradeci e abri a porta para descer do carro.
— Tenho uma proposta para você — disse de repente.
— Proposta? — Perguntei sem entender que tipo de proposta Augusto teria para alguém como eu. — Vou ser direto. Quando te vi, tive certeza de que era um sinal. Eu preciso de uma esposa. — Como é que é? — perguntei, ainda sem entender o que ele queria. — Por várias razões que ainda vou explicar, eu preciso de uma esposa. E acho que você seria perfeita. — Você está me pedindo em casamento? Ficou maluco? — respondi, incrédula. — Mais ou menos. Preciso convencer meu pai de que sou responsável. Ele acredita que a gestão da empresa só pode ser entregue a um homem casado, com família. Pensamento retrógrado. E acho que você é perfeita para isso. Acabou de se divorciar, nos conhecemos desde a escola e, no momento… está na merda.Encarei Augusto sem acreditar. Sim, eu estava na merda, mas não precisava jogar na cara.
— E você acha que vai convencer seu pai aparecendo com uma mulher do nada, dizendo que vai casar? Uma mulher que não vê há dez anos?
— Por isso você é perfeita. Nos conhecemos na escola, você era a menina certinha, filhinha de papai. Podemos dizer que nos reencontramos, que eu te ajudei em um momento difícil e descobrimos uma paixão latente. Lembra quando nos beijamos na sala de química? — Você me beijou na sala de química, Augusto. Não existe nada latente entre nós. — Eu posso pagar bem — ele me interrompeu. — Muito mais do que você tinha com seu marido. — Eu não estou à venda! — respondi indignada, mesmo claramente precisando de dinheiro.— Sério? Quer mesmo ficar nessa situação? Limpando vômito? Tudo bem não precisa me olhar assim. Mas vamos lá, todo mundo tem um preço, Isabela. Se o seu não é dinheiro, qual é? — ele perguntou, sério.
Vacilei. Podia ter saído do carro, mas hesitei. Todo mundo tem um preço? Qual era o meu?
Um pensamento me assombrava dia após dia, eu queria destruir Carlos, a família dele e minha irmã. Eu não dizia isso em voz alta, mas era o que ocupava minha cabeça enquanto minha vida afundava.
— Vingança. — respondi.
— Eu posso ajudar com a sua vingança, e você me ajuda. Uma mão lava a outra. Pensa bem.
Augusto falou como se eu não tivesse pedido nada demais, eu não sabia se ele falava sério ou se era uma brincadeira maldosa.
Eu não disse nada. Saí do carro, sem acreditar naquela conversa, mas, no dia seguinte, Augusto ligou.
— Como você conseguiu esse número? Não lembro de ter dado ontem.
— Tenho meus truques. Pensou na minha proposta? — Achei que fosse um pesadelo. — Isabela, eu posso te dar exatamente o que você deseja. O que acha? O que você quer?— Eu acho que você está desesperado por uma esposa.
— Desesperado a ponto de negociar o que você quiser.
Olhei em volta. Minha vida, no momento, era limpar o vômito de pessoas bêbadas e tomar remédio para dormir.
— Eu topo — falei. Já havia perdido tudo, não tinha mais o que perder.
Augusto desligou, marcando um encontro para o dia seguinte, para conversar sobre os detalhes.
Não contei nada a ninguém. Se a coisa fosse adiante, eu sabia que Camila seria a única a desconfiar. Seria difícil fazê-la acreditar em uma história de amor entre mim e Augusto.