Capítulo 06. O contrato

Augusto postou uma foto enigmática do jantar nas redes sociais, dando a entender que tinha encontrado alguém especial. Claro que ele estava apenas plantando a semente, já que ninguém acreditaria de verdade que ele tinha conhecido uma pessoa tão especial  a ponto de fazer o homem se transformar. 

Depois, pediu que eu fosse até o escritório dele, pois ainda havia detalhes para acertar e seria bom que eu fosse vista no trabalho dele.

Augusto trabalhava na empresa do pai, uma grande corporação do ramo de segurança corporativa. Era tudo o que eu sabia. A sede era um prédio imponente no centro da cidade, com uma cascata de água e o nome Salvatore entalhado na pedra da fachada, indicando uma boa dose da soberba da família. 

Assim que falei meu nome na recepção, minha entrada foi liberada rapidamento sem mais perguntas.  

O escritório de Augusto era enorme, com uma parede inteira de vidro e vista para a cidade. O ambiente exalava dinheiro e poder. Mas, pelo que ele mesmo dizia, aquilo ainda não era suficiente, ele queria mais. E, para conseguir, precisava se casar.

Augusto me recebeu na porta do escritório, vestido com um terno sob medida, exibia uma aura de principe recebendo uma sudita no seu reinado. Aquela era a versão executiva de Augusto, uma que eu não conhecia, mas que parecia cair muito bem nele. Sentei-me na poltrona à frente dele, me sentindo deslocada naquele cenário, no momento eu não tinha autoconfiança nem para existir na naquela sala. 

— Temos alguns detalhes burocráticos para acertar. Pedi para um advogado de confiança elaborar um contrato. Minha intenção é proteger você e a mim. O contrato inclui um acordo de confidencialidade, além do valor estipulado ao fim do acordo. Claro que o advogado da família vai apresentar o contrato pré-nupcial com outras regras, mas isso fica para outra hora.

Ele me entregou o contrato. A coisa estava ficando cada vez mais séria. Por um instante, duvidei do que estava fazendo, mas só por um instante. Depois de tudo, eu não tinha como ficar mais ferrada do que já estava.

O que eu não tinha pensado até então, era que receberia dinheiro pelo meu papel de esposa, e não era pouco, Augusto estava sendo generoso e desembolsaria milhares de reais, além de se responsabilizar por todas as minhas despesas, em resumo eu seria bancada.

Senti que estava me vendendo. 

— Pode levar para ler. Se tiver um advogado de confiança, peça para ele entrar em contato com o meu e eles podem acertar os detalhes. Alguma dúvida?

Eu tinha uma dúvida que me corroía, mas sentia vergonha de expor. Ainda assim, precisava perguntar antes de assinar o contrato, eu precisava saber qual era o limite do nosso relacionamento, Augusto estava praticamente me comprando e eu precisava saber se ele queria algo mais do que um simples casamento de fachada. 

— Eu vou ler e depois te falo… mas tenho uma dúvida. Enquanto casal, precisamos agir como tal na frente das pessoa... quero dizer… mas em relação à intimidade? — perguntei sem graça. Eu era uma mulher adulta de quase trinta anos,  tinha sido casada por anos, mas meu ex-marido tinha sido o único homem com quem dormi. Fora ele, no máximo tinha beijado dois caras. Fingir estar com alguém me parecia um desafio maior do que queria admitir.

Augusto me encarou, entendendo de imediato.

— Claro que vamos precisar andar de mãos dadas, abraços, selinho… talvez um beijo mais profundo. Vamos morar na mesma casa, talvez por dois ou três anos. Mas não precisamos dividir o mesmo quarto. Isabela, não vou pedir que durma comigo, não por obrigação, pelo menos. Eu gosto de sexo, gosto de entrega, não vou exigir isso de alguém. Claro que, se um dia surgir esse desejo de ambas as partes, não vejo por que não.

O pragmatismo de Augusto era algo com que eu não sabia lidar, ainda mais sendo romântica e emocionada. Mas esse lado romântico já tinha me levado para o buraco antes.

— Tudo bem — foi só o que consegui responder.

Fui embora para casa com o contrato nas mãos. Não tive coragem de contar para Camila e preferi procurar a mesma advogada do divórcio para ter uma opinião.

— É sério isso? — ela perguntou depois de ler.

— É — respondi, sem graça.

— Bem… do ponto de vista jurídico, é um contrato muito bom, protege ambas as partes. Do ponto de vista humano… eu diria que pode dar errado. A gente sempre esquece que sentimentos podem surgir nessas histórias. E se isso acontecer?

— Não vai surgir nada, não se preocupe. 

Ela não pareceu nem pouco convencida.  

— Olha, você já sofreu poucas e boas, vou perguntar mais uma vez. Tem certeza que quer enfrentar uma coisa assim?

— Eu tenho certeza absoluta.

— Então, eu diria apenas para aumentar o valor. Estamos falando de uma família rica. Não seja modesta, o cara está pedindo para você ser a esposa de fachada dele por dois anos. É pouco. E vou incluir uma cláusula de sentimento, se acontecer de ambas as partes se apaixonarem, o acordo permanece. E outra, vou incluir uma cláusula de traição, se vier a público alguma traição dele você vai receber uma compensação.

— Tudo bem, pode fazer o que achar mellhor. Ele disse que eu poderia acertar os detalhes com o advogado dele.

— Perfeito, eu falo com ele. Mas, Isabela… vou perguntar mais uma vez, você tem certeza de que quer fazer isso?

Pensei. Na verdade, os detalhes não me importavam. O que importava era a vingança, que a cada dia tomava forma na minha cabeça, eu reaveria o que era meu, minha casa e a empresa do meu pai, o restante não me importava. 

— Tenho. 

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