Capítulo 7 - Isabella Mendes

O apartamento está escuro e silencioso quando chego, pelo corredor percebo a porta do quarto do meu pai fechada e o sofá disponível para que eu me arraste até ele e despenque igual fruta podre. Meus pés estão latejando, os ombros e braços rígidos de tanto equilibrar bandejas e a dor de cabeça parece uma sinfonia preenchendo todo o interior do meu crânio.

Mas eu sobrevivi. E fui paga por isso.

Não era muito dinheiro, mas qualquer quantia sempre é bem-vinda.

O coquetel foi exatamente como eu esperava: um desfile de hipocrisia, arrogância e sorrisos falsos. Alguns poucos rostos me reconheceram e nenhum deles teve o impacto que eu temia. Todos eles me atingiram de maneira superficial.

Exceto ele. Nada me preparou para reencontrar Dante Vasconcelos.

Meu coração acelera só com a vaga lembrança do seu toque firme em mim, seus olhos gentis me encarando com escrutínio.

Passei o dia inteiro preocupada com a possibilidade de esbarrar em Alberto Vasconcellos, o que teria sido horrível. Já foi humilhante o suficiente estar no meio daquela gente, mas ter que encontrar meu ex-namorado naquele estado foi provavelmente uma das piores coisas que eu poderia experimentar.

Dante sempre odiou coquetéis e ventos corporativos, ele nunca ia a nenhum deles. Nas poucas ocasiões em que eu o convidava para ir, ele me convencia de que, se eu queria usar um vestido chique, nós podíamos ir para qualquer outro lugar. Então me levava para algum jantar romântico que sempre terminava na cobertura dele, com o vestido arremessado num canto qualquer.

Hoje me arrependo amargamente dessas decisões. Eu deveria ter ido aos coquetéis, conversado mais com os poderosos chefões, descoberto mais informações, criado mais contatos.

Mas eu me permiti ser só a patricinha mimada, e quando tudo ruiu, eu não tinha absolutamente nada para oferecer a meu pai. Nada que pudesse tirar a gente dessa situação.

Ver Dante lá fez com que eu me sentisse… traída?

Era mais confortável imaginar que ele continuaria odiando e evitando certas coisas porque isso sempre me deu a falsa sensação de que o mundo tinha parado para me esperar.

Por muito tempo achei que, quando eu fosse me reerguer, conseguiria continuar exatamente de onde parei. Era o tipo de ilusão que me mantinha em pé, tentando, lutando.

Claro que, no fundo, eu sabia que isso era impossível, e com o tempo perdi a perspectiva de voltar para aquela vida. Eu nunca mais voltarei a ser aquela Isabella Mendes.

Argh. Nos últimos meses o apelido Bella adquiriu um gosto amargo em meus ouvidos, mas ouvir Dante pronunciando com sua voz grave, fez coisas… contraditórias com meu corpo.

Foi uma familiaridade agradável, vindo de uma situação nem tão agradável assim. Apesar de alto, impecável e todo vestido como o herdeiro perfeito, Dante não é nenhum santo. Vez ou outra, mesmo que eu fuja disso como diabo que foge da cruz, as fofocas de sua vida ainda chegam até mim.

E algumas vezes me peguei pensando como teria sido se as coisas fossem diferentes. Se meu pai não perdesse a empresa, se eu continuasse vivendo naquele mundo, se nós continuássemos um casal. Ou melhor, por quanto tempo teríamos continuado?

Porque, pelo estilo de vida que Dante leva, fica muito claro para mim que das duas uma: ou teríamos terminado pouco tempo depois, ou eu teria sido uma grande corna. E odeio pensar isso, que talvez nosso amor não era tão lindo e puro como eu achava. Que a qualquer momento tudo aquilo desabaria sobre minha cabeça.

Eu quero muito acreditar que Dante Vasconcellos não é nada além de um rosto do passado, uma lembrança de uma época que eu prefiro esquecer, mas quanto mais penso nele, mais rancorosa me sinto.

Aparentemente, enfrentar seu avô e devolver a empresa do meu pai para seu legítimo dono não era algo que ele estava muito preocupado na época.

“Fusões assim acontecem o tempo todo, não posso bater no escritório do meu avô e exigir que ele devolva tudo para seu pai, não sei qual foi o acordo que eles fizeram, mas não é assim que funciona.”

Fazia tempo que eu não lembrava dessa conversa, talvez porque eu já tinha esquecido como era a voz de Dante, mas agora ela está vívida demais na minha cabeça e eu acabo me lembrando de muitas outras coisas inconvenientes.

“Eu te amo tanto, Bella, me diz o que posso fazer pra ajudar.”

“Você é linda, é a mulher mais linda que eu já vi.”

“Um dia eu ainda vou colocar um anel nesse dedo.”

— Chega! — digo, interrompendo as memórias que me inundam como se uma represa tivesse se rompido dentro de mim.

Dante me deixou partir e seguiu com sua vida.

Nunca nem tentou ir atrás de mim. Talvez ele só estivesse esperando uma oportunidade para terminar comigo, para cair na vida de noitadas e libertinagem que ele vive agora. Talvez eu tenha lhe feito um favor ao terminar com ele, assim ele não precisaria carregar nenhuma culpa. Imagina ter que terminar comigo depois de tudo o que aconteceu, teria sido muito pior. Mas, como fui eu quem terminou, ele ainda saiu como o bonzinho da história.

A parte boa de reencontrá-lo é saber que tudo realmente acabou. Não existe mais nada entre nós, não preciso nem me preocupar em esbarrar com ele outra vez, já que não vou aceitar outro trabalho desses e ele nunca vai chegar nem perto do lugar decadente onde estou agora. Vivemos em mundos totalmente diferentes agora e existe um abismo entre nós.

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