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Capítulo 8 - Dante Vasconcellos

O silêncio do apartamento de cobertura é opressor. Quando jogo as chaves sobre o aparador ao lado da porta e afrouxo a gravata sinto a pressão da noite pesar sobre mim.

Não sei dizer o que me incomodou mais: o encontro inesperado com Bella, ou o jeito que ela me olhou. Como se eu fosse a personificação de tudo o que havia dado errado em sua vida.

Eu não era um erro, sabia disso. No instante em que ela falou comigo, sua voz engatilhou tantas memórias, tantas declarações. Não tinha como eu ser seu erro. 

Mas naquele momento, parados naquele corredor, ela me convenceu.

Pego um copo e me sirvo com uísque, não que eu já não tenha tomado o suficiente naquele coquetel, até porque foi preciso para sobreviver ao resto da noite. Meu olhar vasculhava cada canto do salão, como se um ímã me obrigasse a ficar acompanhando os passos de Bella, mesmo sabendo que ela não arriscaria chegar perto de mim de novo.

E não chegou mesmo. Me evitou com maestria. E isso doeu.

Houve um tempo em que o magnetismo era mutuo, em que, independente de quantas pessoas ou quanto espaço nos separava, nós sempre encontrávamos o caminho e terminávamos um nos braços do outro.

Como tudo isso se perdeu assim? Tão rápido?

Paro de frente para a ampla parede de vidro com vista para a cidade iluminada, a noite continuando viva e agitada lá fora, como sempre costuma ser aos finais de semana. Eu deveria estar lá, em alguma dessas festas onde carros de luxo entram e saem o tempo todo.

Mas ao invés disso, estou aqui, pensando nela. Em Isabella Mendes. No reflexo do vidro, quase me vejo mais novo. O Dante que ela abandonou.

Lembro de quando meu avô disse para eu não me preocupar, porque a família Mendes ficaria bem.

Bella não parecia nada bem. Continuava linda, é verdade, mas também parecia que a vida lhe sugou boa parte da mulher incrível que ela costumava ser. Estava assustadoramente magra, com olheiras profundas, ainda que a maquiagem disfarçasse bem.

Só consigo imaginar em que tipo de situação Bella precisa estar para se submeter a trabalhar como garçonete em um evento onde era óbvio que encontraria gente do passado. Incluindo mulheres e homens que estariam mais que prontos para julgá-la e que se divertiriam muito fazendo isso.

Dou um longo gole no uísque e pego o celular. A curiosidade latejando, uma necessidade quase irritante de entender o que aconteceu. A mesma necessidade que me consumiu logo após o término.

Digito seu nome no mecanismo de busca e aperto enter.

Os primeiros resultados são fotos antigas de eventos de gala, a Bella que conheci. Sorrindo ao lado dos pais, vestindo vestidos impecáveis, os cabelos sempre soltos, cachos largos emoldurando o rosto e caindo sobre os ombros. A expressão sempre carregada da confiança de quem sabe seu lugar.

Sempre sonhou alto, grande, era ousada, ambiciosa. Bella sempre pertenceu a esse mundo. Até não pertencer mais.

Conforme rolo a página, a história muda.

A fusão entre a Mendes Tech e a Vasconcellos Corp começa a protagonizar a história de Bella. Algo chama minha atenção, uma palavra que parece mal encaixada.

"Após a fusão, Jorge Mendes deixou a companhia. Rumores indicam que sua participação na empresa foi reduzida a zero. Desde então, a família Mendes desapareceu dos círculos de elite."

Ele deixou a companhia. Não foi removido, como Bella defende. Isso explica algumas coisas, acho.

Continuo buscando por resposta na tela do celular, os artigos posteriores são escassos, eles perderam relevância. Não há fotos recentes, nenhuma menção em colunas sociais ou entrevistas. Eles simplesmente desapareceram da mídia.

A ponto de ninguém realmente se importar que agora ela carrega bandejas em um evento para o qual, anos atrás, teria sido convidada.

Por que eu ainda sinto que algo está estranho? Como se faltasse alguma peça ou eu estivesse olhando só para um pedaço do jogo?

Desabo no sofá, tentando relaxar. Mas aquele lugar também desperta memórias.

Bella sentada sobre mim, me abraçando com braços e pernas, minhas mãos subindo por suas coxas, quadril, cintura, seios… o vestido arremessado para qualquer lugar onde não fosse mais uma barreira para o meu toque, para minha boca.

Lembro de como ela sempre sorria quando eu me enfiava nela, e do carinho delicado em meu rosto mesmo em meio ao prazer febril. Eu nunca me senti tão amado como quando ela me olhava daquele jeito. Mas aparentemente eu não sei o que é amor, já que pouco tempo depois ela terminou comigo e tudo aquilo que ela sentia simplesmente deixou de existir.

Encaro o celular com um frio no estômago. Digito o meu nome depois do dela e encaro as fotos de um passado que parece mais como uma vida inteira.

A mídia nos adorava. As notícias nunca foram maldosas, éramos o casal queridinho da elite.

Isso me desperta para um problema atual. O contraste de quem eu era e quem eu sou. De repente, entendo por que a mídia ficou tão obcecada com minha vida sexual.

— Puta que pariu. É isso! — salto no sofá, largado o copo na mesa de centro e imediatamente tirando um print da tela e deslizando pelos aplicativos e contatos até encontrar a conversa com Enzo.

É perfeito. Vai soar autêntico.

Acabei de encontrar minha noiva por contrato.

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