O arrependimento queimava no seu estômago. Felix andava pela casa falando sem parar. As palavras que saíam de seus lábios eram cruéis. Josephine chorava no canto da sala, com as mãos tampando o rosto como se tivesse acabado de enterrar a própria filha.

Enquanto era insultada, Chloe abria os lábios em várias tentativas, mas nada do que ela dissesse apagaria a mancha que ela estava deixando na própria família.

— Não há necessidade de desperdiçar palavras com ela – os punhos de Josephine estavam cerrados enquanto ela dizia – a sua filha destruiu tudo. Ela arruinou a nossa família.

— Ela precisa consertar o erro que cometeu ou vai embora dessa casa e eu nunca mais quero vê-la — o rosto de Felix se contorceu de raiva ao dizer isso.

A acusação pairava no ar. Chloe não sabia se conseguiria viver com essa culpa para sempre. Se levantou, sentindo os joelhos estalarem quando se colocou de pé. Ela podia dizer a eles todas as coisas que estavam guardadas em seu coração. O desprezo, a ausência, a negligência. Ela viveu à sombra de Megan a vida inteira, ninguém nunca se importou com ela, nem mesmo do seu aniversário eles se lembraram.

Ela não havia passado uma noite com Ruan para se vingar, aquilo foi um acidente do qual ela não conseguiu resistir. Mas ninguém olhava para sua dor, eles só queriam aumentar um pouco mais o seu sofrimento.

Chloe não suportou mais os olhares no rosto e nunca queria deixá-los ver ou saber o quanto a machucaram. Correu pelas escadas e se trancou em seu quarto.

O desespero era palpável. A culpa era dela. No andar de baixo, a voz do seu pai continuava ecoando com raiva. O celular voltou a vibrar insistentemente na bolsa. Limpou a garganta antes de destravar a tela e ver as mensagens estampadas.

Era um vídeo assustador.

O homem que falava era seu ex-namorado, Leônidas, que havia terminado com ela na noite passada. Ele estava de joelhos em frente a uma garota que não era ela, mas quando a câmera deu zoom, ela reconheceu o rosto imediatamente. Aquela era Samantha, sua colega de faculdade, sorrindo e feliz enquanto Leônidas a pedia em casamento.

Samantha ri, se vira, estende a mão e aceita o pedido.

Aquilo foi como um balde de água gelada sobre seus ombros. Já era ruim o suficiente terminar da maneira como tudo terminou, pior era saber que Leônidas já vinha a traindo há algum tempo e agora estava pronto para se casar com outra mulher.

Abaixo do vídeo havia uma mensagem.

— Adivinha quem vai continuar sendo uma garota virgem e patética? Você esperou tanto que ele te pedisse em casamento, e eu realizei seu sonho primeiro. Isso é exatamente o que você merece, Chloe.

Chloe ficou entorpecida, parada no meio do quarto com o celular nas mãos, sem saber o que fazer depois disso. Todas as perguntas da noite anterior foram respondidas uma por uma, lentamente. lagrimas escorrendo pelo seu rosto sem parar, uma dor insuportavel rasgando seu peito. Ela achou que morreria. Pelo menos, ele teve a decência de terminar com ela antes de pedir Samantha em casamento.

Isso era o que ela merecia depois de trair a propria irmã. A voz  em sua cabeça não parava de acusá-la. 

As lágrimas escorreram pelo seu rosto. Seus sonhos e aspirações sendo ofuscados rapidamente pela dura realidade. Leônidas havia dito que a pediria em casamento, mas ele tinha outros planos. Ela mal se lembraria de como seria a felicidade depois daquele dia.

Batidas na porta aumentaram seu sofrimento. A voz de Felix rompeu.

— Abra essa porta imediatamente, Chloe, nós ainda não terminamos nossa conversa.

Antes que qualquer um deles pudesse entrar em seu quarto, ela pegou uma mala e começou a colocar suas roupas dentro dela. As mãos tremiam levemente, mas sua determinação firme. Seus movimentos rápidos, enchendo a mala enquanto tentava controlar as próprias emoções.

Pronta para fugir, Chloe pegou a mala e a arrastou até a janela. Abriu na intenção de sair por ali quando a porta do seu quarto foi aberta. Assustada, ela levantou a cabeça encontrando os olhos cinzentos da última pessoa que ela pretendia ver naquele dia, Ruan.

— Você estava mesmo tentando fugir depois de tudo o que aconteceu?

Fixou seus olhos vazios em seu rosto.

— O que você está fazendo aqui? – Seu tom saiu perigoso – você deveria estar indo atrás da Megan. Ela é a mulher que você ama.

— E vou amá-la para sempre, se é isso o que quer saber – disse sua voz quase embargada – mas ela não quer se casar, ela foi embora exatamente como disse que faria.

— Você ainda pode recuperá-la – ela largou a mala, sentindo uma batalha sendo travada dentro dela – corra atrás dela e a impeça de cometer um erro.

— Eu e você cometemos um erro, Chloe – Ruan a olhou com uma carranca antes de continuar dizendo – A Megan não está disposta a me perdoar e eu também não estou disposto a perdoar você.

— Acha que eu o obriguei a ficar comigo? Não seja patético, Ruan.

— Os lençóis que dormimos juntos tinham manchas de sangue – ele a interrompeu, a vergonha instalada em seu rosto. – Você não deveria ter desperdiçado sua primeira vez com o noivo da sua irmã. Foi a pior escolha que você fez.

— Isso não importa – a última coisa que Chloe queria era discutir ou brigar com ele. Empurrando todo o constrangimento, ela continuou: – sinto muito por estragar seu relacionamento com a Megan, mas preciso ir. Minha vida não é mais aqui, meu pai me detesta e eu não quero viver recordando a vergonha que causei à minha família.

Chloe voltou a segurar a alça da mala e arrastá-la, quando as mãos suadas de Ruan voltaram a segurar seu braço. Isso a fez lembrar vividamente da noite anterior, a intensidade, a maneira como a presença dele acendeu algo nela.

Chloe tentou forçá-lo a soltá-la em vão.

— O que acha que está fazendo? – Ela o olhou assustada – Ruan, me solte imediatamente.

— Não – ele disse, a levando para fora do quarto – eu planejei esse casamento por meses e agora eu preciso de uma noiva.

— Noiva? – Ela balançou a cabeça enquanto seus pés tropeçavam nos degraus – eu não vou me casar com você. Eu não posso fazer isso.

Ela encolheu os ombros, lutando contra ele.

— Vamos nos casar hoje mesmo, seu pai concordou – Chloe o encarou, a confusão agarrando-a – cometemos um erro e vamos pagar por isso. Você será minha noiva substituta.