Christian Müller –
Segui o médico em silêncio por aqueles corredores gelados que pareciam não ter fim.
O médico parou diante de uma sala e respirou fundo antes de se virar. Aquela expressão que ele tentou suavizar... eu conhecia. A gente aprende a reconhecer o peso das palavras antes que elas sejam ditas.
— Senhor Müller... — ele começou, hesitante. — Me desculpe. Norma sofreu uma morte cerebral. Não temos mais o que fazer.
Por um segundo, o tempo parou. Eu não senti alívio. Nem raiva. Nem paz. Senti nada. Era como se meu corpo não soubesse mais como reagir. Como se até a dor tivesse cansado de mim.
— Precisamos da sua autorização para a doação de órgãos. É um procedimento necessário... e, em casos assim, cada minuto conta.
Virei o rosto para ele. Meus olhos estavam secos, mas havia uma tempestade dentro de mim, presa. Uma fúria contida, misturada com um cansaço que não tinha nome.
— Por mim, o senhor não pegaria os órgãos dela. — Falei com a voz rouca, quase em um sussurro, mas firme