O cheiro de terra molhada, o som do vento passando entre as árvores, o relincho dos cavalos, o mugido das vacas e o som ritmado dos cascos batendo contra o chão de terra batida eram a trilha sonora preferida de Taylor Miller. E, para ele, não existia nada melhor no mundo.
A fazenda Sun Valley, com seus hectares infinitos, cercas brancas, pastos tão verdes quanto esmeraldas e montanhas ao fundo, era mais do que um pedaço de terra. Era seu lar. Seu pedaço de mundo. Seu pedaço de paz.
Ele caminhava com as mãos nos bolsos da calça jeans, o chapéu de aba larga protegendo o rosto do sol. Observava as plantações, conferia o rebanho, dava ordens aos funcionários, que o admiravam profundamente e, ao mesmo tempo, sorria satisfeito. Ali, ele era dono de si. Ali, ele era livre.
Livre da pressão.
Livre dos negócios da cidade.
Livre do mundo corporativo que um dia tentaram empurrar goela abaixo.
Porque, sim, Taylor Remington Miller, não era apenas um homem do campo.
Ele era também o herdeiro de um dos maiores impérios bilionários dos Estados Unidos, a Remington Miller Global Holdings, uma multinacional que dominava mercados em mais de cinquenta países, atuando nos setores de tecnologia, agroindústria, energia sustentável, logística internacional e investimentos de alto impacto.
Seus pais, James e Sophia Miller, eram lendas vivas no mundo dos negócios. Revistas como Forbes, Time e Business Weekly estamparam seus rostos inúmeras vezes com manchetes do tipo:
“Os visionários por trás da Remington Miller Global: como transformar bilhões em trilhões.”
“A família que redefiniu o conceito de poder no século XXI.”
“Eles têm tudo… menos um herdeiro disposto a assumir.”
Porque esse era o problema.
Taylor.
O filho prodígio, formado em Agronomia e Economia, fluente em cinco idiomas, gênio em matemática, diplomado com louvor nas melhores universidades dos EUA e da Europa… e, para total desespero dos pais, um homem que preferiu trocar os prédios espelhados, as reuniões de negócios e os jatinhos particulares… por botas sujas de lama, chapéu de cowboy e vida simples no campo.
Simples, claro… se desconsiderarmos o fato de que ele era dono de uma fazenda do tamanho de uma cidade pequena. E ele não trocaria aquela vida por nada. Ou, pelo menos, era o que achava até aquele dia.
Seu celular vibrou no bolso. Ele olhou o visor.
“Mãe.”
— Lá vem bomba. — murmurou, apertando os olhos.
Atendeu.
— Fala, mãe. Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu, sim, Taylor. — A voz dela soou ríspida, impaciente. — E é muito sério. Seu pai e eu estamos a caminho da fazenda. Chegamos em… trinta minutos.
Ele quase caiu sentado.
— A caminho?! Pra cá? Pra fazenda? Que inferno aconteceu?! É com a vovó?
— Ela está bem… por enquanto. Mas isso é sobre você, Taylor. Sobre você… e sobre o futuro da nossa família. — E desligou. Na cara dele.
Ele ficou encarando o celular como se ele tivesse explodido.
— Que merda foi essa…? — apertou os olhos, esfregou a nuca. — Quando ela fala desse jeito… nunca é coisa boa.
Suspirou, ajeitou o chapéu, pegou sua caneca de ferro, que dizia “Melhor fazendeiro do mundo” , sentou-se na cadeira de balanço da varanda da casa principal, e esperou.
O som dos pneus esmagando a brita foi ouvido de longe.
O carro preto, blindado, digno de CEOs, parou na entrada da fazenda. As portas se abriram e, como sempre, sua mãe desceu primeiro: Salto fino afundando na terra, blazer de grife, óculos escuros da Chanel, cabelo impecável e bolsa tão cara que daria pra comprar metade do rebanho.
Logo atrás, veio o pai, terno sob medida, cara de quem preferia estar enfrentando uma rebelião na bolsa de valores do que pisando em terra batida.
— A tempestade chegou. — comentou consigo mesmo, levando a caneca aos lábios.
A mãe, como sempre, nem respirou antes de atacar:
— Taylor Remington Miller! — Ela marchou até ele, com as mãos na cintura. — Nós precisamos conversar. Agora.
Ele ergueu uma sobrancelha, ajeitou o chapéu e respondeu, arrastando a voz:
— Boa tarde pra vocês também. Viajaram bem? Esse salto novo combina bastante com… lama.
Ela olhou pros próprios pés, afundando na terra, e fez uma careta.
— Ah, Taylor, pelo amor de Deus… até quando você vai insistir em viver no meio desse nada? Isso não é vida!
Ele sorriu, cruzando as pernas.
— Pra mim, é a única que vale a pena.
O pai pigarreou.
— Corta. Vamos direto ao ponto.
— Opa… lá vem bomba. — respondeu, largando a caneca na mesa.
A mãe ajeitou os óculos, ergueu o queixo e soltou:
— Você vai se casar!
A reação foi instantânea.
Taylor engasgou no café, bateu a mão na mesa, levantou tão rápido que quase derrubou a cadeira.
— Vocês ficaram malucos?! EU?! Casar?!
Ela cruzou os braços.
— Sim. Vai. E não adianta essa cena, Taylor. Esta decidido.
O pai ajeitou a gravata, seríssimo.
— É uma decisão de família. Um acordo estratégico entre Remington Miller e as Montgomery.
Ele apertou os olhos.
— Lila… Montgomery?! — disse, muito lentamente, como se cada sílaba fosse uma facada.
— Ela mesma. — confirmou a mãe, sorrindo de canto.
Taylor deu dois passos para trás, segurou o chapéu, passou as mãos pelos cabelos, respirou fundo.
— Vocês querem me ver morto, é isso?! A garota que tem pavor de lama? Que acha que vaca é animal de zoológico? Que acha que milho… nasce em supermercado?!
O pai respirou fundo.
— Ela mudou.
— Mudou?! — gargalhou. — A única coisa que aquela mulher muda… é o modelo da bolsa. Vinte vezes por mês.
A mãe ergueu o queixo.
— Você vai se casar, Taylor. Pelo bem da família. Pela Remington Miller Global Holdings. E pelo desejo da sua avó.
— Remington Miller Global Holdings?! — gesticulou, indignado. — Vocês são donos da maior multinacional dos Estados Unidos! Têm bilhões, empresas em cinquenta países, dominam tudo que existe de tecnologia, energia, agroindústria… E, ainda assim… querem brincar de casamenteiros do século XV?!
O pai cruzou os braços.
— Exato. Porque dinheiro compra tudo. Menos tradição. Menos legado. E o legado Miller… não pode morrer com você solteiro, vivendo no meio do mato, cercado de vacas e cavalos.
Ele fechou os olhos, respirou fundo, apertou os olhos.
— Porque não casam a Catarina?
— Catarina não é a herdeira, Taylor.
— Porque não? O empoderamento feminino esta na moda, isso seria maravilhoso para os negócios.
— Sua irmã não nasceu para isso?
— Porque não?
— Não discuta Taylor, você vai casar e pronto!
— Se eu não aceitar?
O pai sorriu. Aquele sorriso perigoso de CEO bilionário que estava acostumado a ganhar tudo.
— Então pode esquecer qualquer direito à Remington Miller Global Holdings. Adeus, participação. Adeus, ações. Adeus, herança. E, talvez… adeus à fazenda também.
O silêncio explodiu. Por cinco segundos.
E então Taylor apertou o chapéu contra o peito, respirou fundo… e sorriu. Aquele sorriso torto, cínico, que ele usava quando já sabia que ia tocar fogo no tabuleiro inteiro.
— Tá bom. Eu caso. — ergueu o olhar. — Mas anotem aí… quando ela aparecer aqui com salto agulha, vestida de seda, e atolada até o joelho no barro… eu não salvo. Eu só filmo. E posto. No mundo inteiro.
A mãe respirou fundo, ajeitou o blazer, ajeitou os óculos e sorriu.
— Perfeito. Prepararemos os convites.
O pai ajeitou a gravata, respirando fundo.
— Deus nos ajude…
E Taylor?
Ele olhou pras montanhas, pro céu azul, pro pasto que ele amava… e só conseguiu pensar em uma coisa:
— Minha vida… oficialmente… acabou.