Lila Montgomery não apenas bateu a porta do quarto, ela a fechou com tanta força que o retrato do bisavô caiu da parede do corredor. Mas naquele momento, ela mal se importava se tinha acabado de “assassinar” o velho Alphonse Montgomery III. Que ele fosse enterrado junto com a paciência dela.
— Casar? Com Taylor Remington Miller? Porque a vovó precisa de estabilidade emocional e porque é bom para os negócios da família?
Ela repetia as palavras da mãe em voz alta, fazendo voz afetada enquanto andava furiosa de um lado para o outro, com o celular ainda tremendo na mão.
— Ah, claro, nada acalma mais uma senhora cardíaca do que ver a neta ser vendida como novilha premiada a um boiadeiro com nome de whisky caro.
O closet estava uma zona de guerra. Saltos voavam, vestidos eram lançados por cima dos ombros como se estivessem contaminados por etiqueta social. Até que Lila parou em frente ao espelho, respirou fundo e disse para o próprio reflexo:
— Se é guerra que eles querem… então é guerra que eles vão ter.
Escolheu seu vestido mais escandaloso: um tubinho rosa-choque justo como um abraço da Barbie revoltada, com um zíper dourado que ia das costas até… bem, quase a alma. O tecido brilhava sob a luz como se tivesse sido polvilhado com partículas de escândalo. Completou o look com saltos agulha tão altos que exigiam equilíbrio emocional e um pacto com o além.
Fez uma maquiagem digna de um editorial de revista: delineado felino, rímel até a sobrancelha, e gloss labial que dizia “beije-me ou morra tentando”. Os cabelos loiros estavam perfeitamente ondulados, caindo como cachoeiras de rebeldia pelas costas nuas. E aqueles olhos azuis, ah, aqueles olhos! — brilhavam com indignação e glitter.
A princesa mimada estava oficialmente em rebelião.
Quando desceu as escadas com o celular na mão, a tela já mostrava 47 mensagens da mãe, 3 ligações perdidas do pai e uma mensagem dramática da avó dizendo: “Pensei que veria você casar antes de morrer. Agora talvez nem dê tempo.”
— Dramática, igual a mim — murmurou, pegando a clutch prateada e saindo de casa como se estivesse desfilando na passarela do caos.
Do lado de fora, encostada no carro, estava Suze, sua melhor amiga, confidente e, em muitos aspectos, a encarnação ruiva de uma tentação ambulante.
A ruiva tinha os cabelos selvagens soltos, os olhos cor de âmbar acesos como fogo e um vestido preto curtíssimo, cravejado de cristais no decote profundo.
— Finalmente! Achei que você ia desistir e aceitar a proposta de matrimônio em troca de uma joia da Cartier. — disse Suze, abrindo a porta do conversível com um estalo.
— Eu aceitaria se viesse com um divórcio incluso e uma ilha nas Maldivas — rebateu Lila, entrando no carro com o ar de quem estava prestes a cometer um crime estiloso.
O destino da noite? A Boate Velvet Room!
A noite em Manhattan pulsava como um coração inquieto. O letreiro da Velvet Room brilhava em azul néon quando as duas chegaram. A boate era uma mistura de refúgio para almas perdidas, passarela para narcisistas e reduto de paixões perigosas. A fila deu espaço instantaneamente. Era impossível ignorar a presença de Lila. Os olhares masculinos se voltavam em cascata, alguns disfarçados, outros descaradamente lascivos. Mas ela não estava ali para agradar ninguém, estava ali para esquecer.
— Você é uma calamidade natural com glitter, — disse Suze, rindo. — As seguradoras deviam te cobrar pela perturbação em massa que você causa quando entra em lugares públicos.
— E pensar que tudo isso pode ser de um homem só — respondeu Lila, com ironia venenosa.
No bar, a música eletrônica vibrava sob a pele como uma promessa. Lila pediu um Cosmopolitan e Suze um Sex on the Beach.
— Então me diz, quem é o felizardo que vai colocar o anel na nossa princesa indomável? — perguntou Suze, com um sorrisinho malicioso enquanto balançava os quadris ao ritmo da música.
Lila suspirou. Aquele tipo de suspiro que parece carregar um sofá nas costas. Olhou para o copo vazio e fez sinal para o bartender com um estalar de dedos digno de diva de Hollywood.
— Taylor Remington Miller — disse, como se cuspisse as palavras.
Suze engasgou de tanto rir, inclinando o corpo sobre o balcão.
— O boiadeiro gostosão?! — gritou ela, chamando atenção de metade do bar.
— O próprio.
— Aquele homem de 1.90 cm, que tem músculos onde outros homens têm ossos, que doma touros como quem penteia cachorro?
— Esse mesmo.
Suze bateu palmas, gargalhando como quem acabava de ouvir que ganhou na loteria.
— Ah não, Lila. Me belisca. Esse homem é um espetáculo. Um autêntico vaqueiro do pecado. Ouvi dizer que as mulheres que caem na cama dele… imploram por mais e perdem a noção de tempo, de espaço e de bons modos.
— Até imagino, ele deve laçar elas como um cavalo e relinchar enquanto goza.
Suze arfou teatralmente, batendo as unhas vermelhas no balcão.
— Ótimo. Porque se depender dos meus pais, é com ele que eu vou perder a virgindade. — Lila revirou os olhos e virou o restante do copo.
— Amiga, você vai perder a virgindade com dignidade, finalmente! Esse homem é um es-pe-ta-cu-lo. — disse, rindo. — Ele tem um corpo esculpido a chicote e suor de fazenda. O que ele tem de rude, tem de sexy. Aposto que até sabe usar corda…
Lila riu pela primeira vez naquela noite. Um riso genuíno, ainda que cansado.
— Isso se ele não me amarrar no altar primeiro.
— Ou na cama. O que vier primeiro — murmurou Suze, piscando.
— Nossa, se bem que com um homem daquele eu não faria questão de cavalgar como uma amazona por horas. Se bem que com toda certeza depois disso, eu ficaria dias sem andar, ele é todo grandão e isso só me leva a crer que algumas partes do seu corpo também devem ser… grandes.
— Que horror Suze, já quer me deixar traumatizada?
— Estou sendo realista amiga, milhares de garotas adorariam estar no seu lugar.
— Por mim podem ficar.
As duas riram até que Suze continuou:
— Vem cá, todo esse ódio do boiadeiro é por causa daquela festa?
Lila por um instante sentiu um arrepio subir a espinha. Nunca, jamais iria admitir que uma parcela do ódio que sentia por Taylor era por causa daquela maldita festa há dois anos, e a outra parcela era que DETESTA lama, cavalo, mato e tudo o que ele mais amava.
— Claro que não, pouco me importa o que ele pensa sobre mim.
— Então… tá. Mas amiga, se eu fosse você eu já começaria a me preparar psicologicamente para tudo, e quando eu digo TUDO, está incluído morar numa fazenda, dizer adeus a tecnologia e perder a virgindade para um touro reprodutor.
— Ótimo. Vou aprender rápido a diferença entre “vai devagar” e “me deixa sem andar por três dias”.
Elas riram tanto que o segurança da pista de dança olhou duas vezes. Suze se abanava com a carta de drinks e Lila bebia o Cosmopolitan como quem estava prestes a assinar um pacto.
— Eu tô até imaginando o convite de casamento — disse Suze, fazendo voz de locutora. — Lila Montgomery & Taylor Remington “Cintura de Aço” Miller convidam para o enlace entre um Prada e uma espora de cavalo.
— E os votos: “Prometo não reclamar quando você chegar com cheiro de curral, desde que durma no chão.” — completou Lila, já aos risos.
Elas riram juntas, cúmplices, como duas adolescentes prestes a cometer um crime delicioso. E, por alguns minutos, Lila esqueceu das obrigações, do peso da tradição, da avó sendo usada como escudo emocional.
— Você vai dançar ou vai ficar aí fingindo que não é a mulher mais gostosa desse lugar? — perguntou Suze, puxando-a pela mão.
A pista estava lotada, mas abriu espaço como mágica. Lila se jogou na música, os cabelos dançando ao redor do rosto, o corpo se movendo com um magnetismo inconsciente. A raiva que sentia virou adrenalina. O medo virou desejo, a indignação se transformou em liberdade.
E enquanto dançava, uma parte dela se perguntava se aquele tal Taylor Remington Miller era mesmo tudo o que diziam.
Porque se fosse… talvez perder o controle não fosse tão ruim assim.