— UM CONTRATO DE CASAMENTO?— Lila arregalou os olhos, piscando várias vezes, esperando — sinceramente — que aquilo fosse algum tipo de pegadinha. — Não. Não, não e NÃO! VOCÊS SÓ PODEM ESTAR LOUCOS!
Cruzou os braços, levantou da cadeira da sala de jantar, bufando como uma leoa prestes a devorar qualquer um que respirasse perto demais.
— Isso é uma piada, certo? Me diz que é uma pegadinha, que tem uma câmera escondida em algum lugar… Cadê? Onde tá? — Ela começou a olhar pros cantos do cômodo, girando sobre os próprios pés. — Em que ano estamos?
— Lila… — a voz de sua mãe saiu polida, paciente, controlada… o que só significava uma coisa: ela estava a dois segundos de perder essa paciência. — Sente-se. Vamos conversar civilizadamente.
— Civilizadamente? — Arqueou as sobrancelhas, segurando a mão na cintura. — Vocês basicamente estão vendendo a própria filha e querem que eu aceite isso civilizadamente? Ah, claro… só se for com champanhe e canapé na mão!
— Ninguém está te vendendo, Lila. — O pai interveio, ajeitando os óculos no rosto. — É um contrato… um entendimento entre as famílias.
— Um entendimento?! — Ela deu uma gargalhada debochada. — Parabéns! Vocês acabaram de criar um contrato social digno do século XV. Sabe o que mais rolava no século XV? Queima de bruxa. E, sinceramente… eu prefiro a fogueira!
Do outro lado da mesa, seu irmão, Thomas, observava a cena com uma expressão de puro entretenimento. As mãos cruzadas atrás da cabeça, os pés apoiados na mesa, e o sorriso mais largo e debochado que ela já vira no rosto dele.
— Meu Deus… — Thomas deu uma gargalhada. — Isso tá melhor que N*****x.
Lila lançou um olhar mortal para ele.
— Você, cala essa boca antes que eu jogue essa jarra na sua cara, Thomas!
— Tenta. Vai ser divertido. — respondeu, mordendo o lábio inferior pra segurar mais uma gargalhada.
— Pelo amor de Deus… — A mãe massageou as têmporas. — Lila, seja racional por cinco minutos.
Ela bufou, chutou uma das cadeiras pro lado e cravou o olhar nos pais.
— Não. Eu não vou me casar. Isso aqui não é o período medieval, e eu não sou peça de xadrez de família nenhuma. Esqueçam. Cancelem. Deletem. Formatem o HD. Isso NÃO VAI ACONTECER!
O pai se levantou, ajustou o paletó, respirando fundo como se contasse até mil.
— Vai acontecer, sim. E sabe por quê? Porque esse casamento não é apenas sobre você. É sobre legado. É sobre manter alianças, fortalecer os negócios e, acima de tudo, honrar o desejo da sua avó. Você sabe… ela não está bem. E o último pedido dela foi ver você e Taylor casados.
O nome fez o corpo de Lila enrijecer como uma estátua.
Ela piscou, os olhos arregalaram ainda mais.
— Taylor… Miller?! — A boca dela abriu num “O” perfeito. — O fazendeiro?
— O herdeiro de um império, Lila. — corrigiu a mãe, cruzando os braços.
— O herdeiro que se recusa a ser herdeiro! — Ela praticamente gritou, andando de um lado pro outro. — Aquele cara selvagem que vive no meio do mato, plantando sei lá o quê, cuidando de vacas e cavalos como se fosse o século dezenove?
Thomas riu tanto que quase caiu da cadeira.
— Por Deus, Lila… continua. Tá cada vez melhor.
Ela lançou um olhar que prometia homicídio.
— Cala. A. Boca.
— Filha… — a mãe segurou suas mãos, apertando com firmeza. — Você precisa entender. Taylor também não quer isso. Ele tá tão contrariado quanto você. Ninguém tá feliz. Mas às vezes, na vida, a gente faz coisas… não por querer, mas porque é necessário. E, quem sabe… esse convívio… mude vocês dois.
Lila soltou as mãos, respirou fundo, apertou os olhos e então explodiu:
— Isso é surreal! Meu Deus, cadê uma câmera? Cadê alguém pra gritar “pegadinha”? Isso não é real. Isso não é possível. Eu juro… eu prefiro viver na Antártida comendo pedra de gelo do que casar com aquele… aquele… fazendeiro rústico!
— E eu que achava que ela só era dramática com cartão de crédito bloqueado… — Thomas comentou, rindo mais ainda.
Ela apontou o dedo na cara dele.
— Você devia agradecer que não é você, seu inútil!
— Tá bom, princesa. Relaxa. — Ele ergueu as mãos, rindo. — Mas olha… se precisar de alguém pra segurar sua cauda no altar… me chama.
Ela jogou uma almofada na cabeça dele.
O pai cruzou os braços, sério.
— O casamento está marcado, Lila. E você vai cumprir esse acordo. Quer você queira… ou não.
Ela parou. Ficou imóvel por alguns segundos. Então cruzou os braços, ergueu o queixo, encarando os pais.
— Isso não vai acabar bem. — Disse, com a voz mais firme e desafiadora que conseguiu. — Pra ninguém.
Girou sobre os saltos, saiu marchando do cômodo, batendo a porta com tanta força que os quadros da parede tremeram.
Thomas olhou pros pais, ainda sorrindo, e comentou, divertido:
— Vocês têm certeza de que juntar dois furacões desses é uma boa ideia?
O pai respirou fundo.
— A gente não tem ideia, filho. Mas ou vai dar muito certo… ou vai explodir o universo inteiro.