Há algo de estranho no silêncio da fazenda logo pela manhã.
Não é um silêncio vazio, desses que assustam. É carregado de vida oculta: o mugido distante de um boi, o canto dos pássaros que se aninham nas árvores do pomar, o bater suave de panelas na cozinha. Eu sempre gostei desse som de fundo, porque, de alguma forma, ele me lembra que, mesmo quando estou perdida em meus próprios pensamentos, a vida lá fora continua a pulsar.
Mas naquela manhã, algo quebrou a rotina. Eu já estava à mesa com Catarina, discutindo entre uma colherada e outra de doce de leite quem comeria mais doce de leite, quando passos pesados ecoaram pelo corredor. A cozinha inteira silenciou, como se até o café que fervia na chaleira tivesse prendido o fôlego.