O Grito e a Revelação
O silêncio do quarto barato parecia sufocante. O cheiro do álcool ainda pairava no ar, misturado à lembrança de um corpo que ainda estava ali, imóvel na cama ao lado. Cada músculo do meu corpo estava tenso, e minha mente girava em círculos tentando compreender o que havia acontecido. O choque tomou-me como um soco. Não era apenas a lembrança borrada da noite anterior, nem a ressaca que fazia minha cabeça latejar. Era a realidade nua e crua: Em cima daquela mesa estava uma certidão de casamento com o meu nome e o de Leticia. O lençol manchado, a marca úmida e quente, era um testemunho impossível de ignorar. Meu corpo reagiu involuntariamente à visão, mas minha mente entrou em pânico. Ela era virgem! Cada detalhe da noite se tornou uma avalanche de culpa, surpresa e confusão. Olho Letícia na cama, completamente nua e algo dentro de mim explode: Meu grito cortou o ar antes que eu pudesse contê-lo, um som que misturava incredulidade, medo e desespero. —MAS QUE DROGA FOI ISSO! — Oh, Deus… Murmurei, sentindo meu coração quase saltar do peito. O grito não passou despercebido. Letícia acordou imediatamente, olhos arregalados, cabelo despenteado caindo sobre o rosto. Ela piscou várias vezes, tentando entender a realidade ao seu redor. — Henry? Sussurrou, a voz trêmula, tentando recobrar o fôlego. — O que, o que aconteceu? Ela olhou para o lençol, e seus olhos se arregalaram ao perceber o que sua inocência ainda não esperava enfrentar. Um rubor profundo subiu por seu rosto, misturado a medo, vergonha e surpresa. — Letícia. Comecei, a voz rouca, sem saber por onde começar. — Nós fizemos… Ela interrompeu-me, tentando encontrar algo para se cobrir, enrolando o cobertor ao redor do corpo. — Eu eu não… Balbuciou, claramente confusa. — Não lembro de nada… Henry. Meu peito apertou ao vê-la tão vulnerável. A mulher forte que eu conheci na noite anterior agora parecia frágil, exposta, e minha raiva, confusão e desejo se misturavam de forma explosiva. — Letícia. Disse, aproximando-me devagar, tentando não assustá-la mais — você está bem? Está ferida? — Não, não estou ferida, somente dolorida e com muita dor de cabeça. Respondeu ela, os olhos brilhando de lágrimas contidas. — Mas minha irmã a bebê… —Henry, e se algo tiver acontecido? —Tenho que ir embora rápido! Ela se levanta enrolada no lençol manchado e começa a catar as peças de roupa pelo quarto. Enquanto nos vestimos de maneira improvisada e tentando organizar as roupas espalhadas, percebi que nada seria como antes. Letícia, apesar de frágil e confusa, demonstrava uma força silenciosa que me atraía profundamente. Infelizmente a calcinha e o sutiã estavam em frangalhos, Letícia com o rosto vermelho entra no banheiro e ouço a água cair no chão. Minutos depois ela sai com o cabelo molhado e já começa a calçar os sapatos. —Eu não posso, não posso ser irresponsável assim… —Eu prometi pra ela! Vejo lágrimas escorrendo no seu rosto. —Preciso ir embora rápido! —Espera Letícia, o que houve? —Precisamos conversar, você não pode ir assim eu levo você e conversamos, tudo bem? —Sim, nesse momento eu preciso chegar urgente em casa. —Lá nós conversamos. Ela se cobre com a blusa de frio apesar do calor lá fora Saímos do hotel sem grandes problemas peço um táxi até o cassino, lá pego minha caminhonete abro a porta pra Letícia ela entra e me passa o endereço Digito no aplicativo e seguimos para o endereço que Letícia me passou Ela está encolhida no banco seus lindos olhos estão nublados de lágrimas que ela luta para não deixar cair. Nesse momento me recordo da proposta de não falarmos da nossa vida, e por causa disso eu agora me encontro casado com uma crupiê que era virgem e está desesperada para chegar em algum lugar e eu não sei por que. Após sairmos da área nobre da cidade, chegamos a um bairro da periferia, Letícia me pediu para estacionar em frente a um prédio de aparência bem duvidosa. —Obrigada pela carona Henry , Adeus! —Como é? Você não entendeu Letícia, não foi uma carona, nós nos casamos! Vejo ela ficar pálida, suas mãos trêmulas. Proponho: — Me deixa subir, e nós conversamos, tudo bem! Ela abaixa a cabeça e concorda. Entramos no prédio, não havia porteiro, entramos no elevador muito mal conservado e saímos no sétimo andar. Uma mulher estava na porta com uma menininha no colo, sua expressão não era das melhores. –Já havia te avisado que não toleraria atrasos, pode procurar outra pessoa para cuidar dessa criança, eu não vou cuidar mais! Ela passa a criança para os braços de Leticia e uma sacola com coisas da criança. —E quero meu dinheiro hoje! Ela virasse e entra no apartamento fechando a porta. Ela recuou e abriu a porta do próprio apartamento e entrou com a criança no colo e eu a sigo, cada vez mais confuso e me sentindo culpado. abraçando a bebê que ainda dormia. O instinto protetor que carregava pelo bebê tornava-se evidente, e minha admiração por ela cresceu ainda mais. O quê eu fui fazer e onde eu fui me meter! —Henry sente-se vou cuidar da Iara, depois conversamos Tudo bem Letícia eu espero tenho tempo. Apesar da situação que havíamos vivido e do que precisávamos conversar, ela pensava primeiro na bebê antes de si mesma. — Letícia. Comecei, sem saber como explicar — Eu também não sei como isso aconteceu. —Eu não queria, não pensei… Ela me olhou com intensidade, e seu rubor profundo contrastava com a firmeza em sua voz: — Então, por favor não finja que foi só um erro, Henry. —Isso foi real. Nós, nós fizemos amor. O choque me atingiu de novo. A consciência de que a havia violado, mesmo sem intenção, a virgindade de Letícia, me fez sentir o peso do mundo sobre meus ombros. Cada decisão, cada ação da noite anterior parecia agora irreversível, e o juramento de vingança contra Laura ficou distante diante da confusão emocional que me consumia. — Letícia, eu… Tentei, mas as palavras falham. — Eu não posso acreditar é… — Foi tudo muito rápido, não era para ser assim. Ela respirou fundo, segurando a bebê com mais firmeza, e seus olhos encontraram os meus com uma mistura de medo e desafio: — Henry, agora é tarde demais para arrependimentos. –Nós… —Nós sabemos o que aconteceu. Um silêncio pesado caiu sobre nós. O apartamento barato, com a parede marcada por umidade e móveis simples, parecia pequeno demais para conter a intensidade do momento. Cada respiração, cada gesto carregava o peso da realidade que se formava ali: Não havia como voltar atrás. — Então o que fazemos agora? Perguntei, a voz quase um sussurro, sentindo-me perdido entre desejo e responsabilidade. — Sobre a bebê. Disse ela, finalmente respirando com mais calma —Ela é minha irmã, precisa de mim. —Minha mãe morreu de câncer meses após Iara nascer. —- Isso nunca havia acontecido e eu não te culpo, nós dois estávamos fora de nosso juízo perfeito para usar uma frase bonita. —Muito obrigado pela carona agora você pode ir embora. —Tenho muita coisa para resolver antes do horário do trabalho. —Você não está entendendo Letícia, nós estamos casados, lembra? —A certidão está no meu bolso, você agora é minha esposa! —Não posso simplesmente Henry, você entende, não é? Assenti, sentindo minha mente girar. Sim, eu entendia. Mas, ao mesmo tempo, havia algo mais que crescia dentro de mim: A atração, a química, a necessidade de proteger e conquistar aquela mulher de qualquer maneira. — Eu entendo. Murmurei, aproximando-me ainda mais, tentando não invadir seu espaço, mas deixando claro que estava ali. — Mas você não está sozinha nisso, Letícia. Nem você, nem a bebê. —Você vai vir comigo. Ela desviou o olhar, mas não recuou. A tensão entre nós não diminuía, pelo contrário, parecia crescer a cada segundo. Um toque involuntário em seu braço fez sua pele estremecer, e percebi que ela também sentia a atração que queimava silenciosamente entre nós. — Henry. Disse ela, a voz baixa, quase temendo nomear o que sentia — Eu não sei como lidar com isso. — Eu também não. Admiti, a primeira vez que confessei a confusão em meu coração. — Mas não podemos negar o que aconteceu. —-Não podemos fingir que nada mudou. —Não sou irresponsável Letícia. —Pense bem, estamos casados, eu tenho um emprego que dá pra nós manter, você está sozinha, não tem quem cuide da bebê, e nós não usamos preservativo, você pode estar grávida. —Vamos tentar fazer essa loucura toda dar certo! —Por nós e pelo bebê Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos, e finalmente disse: — Então vamos tentar lidar com isso juntos. —Mas você precisa prometer Henry, prometer que vai entender minha prioridade: —Minha irmã. Sempre. Assenti, sentindo um misto de alívio e desejo. A promessa foi selada silenciosamente, e o vínculo que começara na noite anterior ganhou uma dimensão mais profunda: não era apenas física, mas emocional e protetora. O dia avançava, e ambos sabíamos que precisávamos sair daquele apartamento, enfrentar a realidade e planejar os próximos passos. Letícia precisaria explicar sua situação e pedir a conta do emprego e entregar o apartamento, e eu precisaria manter minha identidade em segredo, ao menos por enquanto. Mas, no fundo, sabíamos que algo mudara. A energia entre nós, a química, a tensão sexual e emocional não poderiam ser ignoradas. Cada olhar, cada gesto, cada respiração compartilhada carregava a promessa de dias intensos, de descobertas e de uma paixão que ambos ainda precisavam compreender completamente. E eu, mesmo carregando minha raiva e os planos de vingança contra Laura, sabia que aquela mulher e sua irmã haviam mudado minha vida para sempre. O primeiro choque emocional havia passado, mas o turbilhão de sentimentos, desejos e responsabilidades apenas começava. E assim, naquela manhã confusa, com ressaca, culpa e desejo misturados, eu e Letícia iniciavamos um vínculo intenso e complexo, onde paixão, proteção e atração se entrelaçavam, prontos para me desafiar ambos de maneiras que eu ainda não podiam imaginar.