Capítulo 2
Eles apenas perderam um “peso morto”.

Enquanto eu, afogada no desprezo deles, perdi minha loba... e perdi minha vida.

Como era de se esperar, quando uma Curandeira mencionou meu nome, o rosto da mamãe endureceu na hora:

— Pra que mandar uma Lobisomem egoísta como ela estudar medicina? Quem garante que voltaria da Cidade Central com o coração menos podre do que já era?

Linda, deitada na cama, encenava a filha dócil, a voz melosa:

— Mamãe… não se irrite, isso faz mal. A Coni sempre teve as ideias dela… deve ter os motivos dela também…

Mamãe acariciou com ternura a testa da mais nova:

— Linda, você é boazinha demais, por isso sua irmã vive te pisando e roubando tudo que é seu.

Linda sabia exatamente como parecer compreensiva e inocente.

Sempre soube.

E assim conquistava todo o amor dos nossos pais.

Mas eu sabia, com absoluta certeza: mesmo se minha loba já estivesse morta, mesmo se eu me ajoelhasse diante deles, em carne viva, e contasse entre soluços como Linda me atraiu para a armadilha da mina, como me empurrou para os lobos... Eles apenas soltariam um riso frio e cuspiriam:

— Mais uma mentira! Você só sabe ter inveja da sorte e do dom da sua irmã!

Durante vinte anos, ouvi variações dessa frase mais vezes do que posso contar.

Antes que o silêncio se instalasse, Natã invadiu o posto de cura.

Ele era guerreiro da alcateia, vindo direto da linha de frente.

Assim que entrou, correu até a Linda, examinando-a com desespero.

Ao ver que eram só ferimentos superficiais, soltou um longo suspiro de alívio — e logo em seguida, explodiu:

— Eu disse! A Coni sempre foi a maldição dessa casa! Desde que a Linda nasceu, só vive sendo atacada por ela!

Linda se aninhou nos braços dele com uma doçura fingida, como quem hesita:

— Irmão… não foi nada… Mesmo quando ela me empurrou pra dentro da mina… com certeza não foi de propósito…

A enfermaria inteira pareceu congelar por um instante — e então explodiu em gritos.

Meu pai rugiu, socando a parede com fúria:

— O QUÊ?! Ela TE EMPURROU pros lobos selvagens?! Ela fez isso com a própria irmã?!

Mamãe cravou as unhas na palma da mão até sangrar, os dentes cerrados:

— Como eu pude gerar uma filha tão perversa… Isso não vai ficar assim. Se ela encostar em você de novo, expulso ela da alcateia com as próprias mãos!

Os olhos de Natã se injetaram de ódio. Sua adaga de prata já estava em punho:

— Ela te machucou uma vez, agora tenta uma segunda? Quer mesmo saber como é ser banida?

Linda piscou, percebendo que tinha ido longe demais. Mordeu levemente o lábio inferior, e murmurou:

— Pai, mãe, irmão… Não culpem a Coni. Deve ter sido engano meu… Ela é minha irmã… com certeza nunca me machucaria de verdade…

A voz dela tremia no fim da frase — igualzinha a uma irmãzinha doce, inocente e cheia de amor pela irmã mais velha.

Natã sorriu com ternura, passando a mão em seus cabelos:

— Você é boa demais. Com uma irmã como você, a gente tem sorte demais.

— Ter uma irmã como você é uma bênção da Deusa da Lua.

— Vamos fazer o que você quer, tá? Ficar em paz e focar na sua recuperação.

O pôr do sol atravessava as frestas das janelas do posto de cura, derramando luz dourada sobre aquela cena familiar.

Um quadro perfeito: os pais, o irmão, a filha querida.

Observei aquela cena calorosa, e tudo em mim gritava: eu era só uma loba selvagem a mais — fora do bando, fora da família.

Nunca fui uma delas. Nunca perteneci àquele lar acolhedor.

Tentei chamar. Ninguém ouviu.

Tentei fugir. Mas minha alma estava acorrentada à minha mãe, muda, invisível, obrigada a suportar cada palavra cruel, sem poder reagir.
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