Capítulo 4
Assim que cruzou a porta de casa, Linda deixou-se cair delicadamente no sofá.

Mal reclamou que estava com fome, e Natã — o mesmo guerreiro orgulhoso que jamais se aproximava do fogão — correu para a cozinha, decidido a preparar pessoalmente uma refeição nutritiva “só para ela”.

Papai surgiu com um vestido cravejado de rubis nas mãos, um presente de “boas-vindas pela recuperação”.

Mamãe passou a manhã redecorando o quarto da filha, cobrindo-o com Sinos Lunares e flores frescas, tudo para que ela acordasse com “boas energias”.

Linda, apenas girando em frente ao espelho com o vestido contra o corpo, fazia os corações deles pararem. Bastava um movimento para que todos se alarmassem, com medo de que ela se ferisse de novo.

E eu?

Minha alma os seguiu de volta para casa.

Mas a casa onde eu crescera — e onde vivi todas as minhas memórias — agora me feria com cada detalhe.

Estava ali, mas era como se nunca tivesse existido.

A campainha tocou.

Eu reconheci o cheiro antes mesmo de vê-lo: Ivan.

Meu companheiro.

Vestia seu manto de batalha, mas nas mãos trazia um pequeno pacote com suplementos naturais.

Entrou direto e se aproximou de Linda com gentileza:

— Minha senhora, soube que Linda recebeu alta hoje. Trouxe alguns nutrientes para fortalecer seu corpo.

Linda recolheu a bandeja de lanche, baixou os olhos e fez-se tímida:

— Ivan... não precisava. Já estou quase totalmente recuperada...

Ele sorriu. Um sorriso suave — aquele que, comigo, ele jamais mostrou.

Fiquei olhando para ele.

A dor que senti não tinha nome. Era só o frio crescendo dentro.

De repente, ele perguntou:

— E a Coni?

O ambiente congelou.

Se não fosse ele a mencionar-me, talvez esta família já tivesse apagado para sempre o nome 'Coni' da memória.

Mamãe, de imediato, escureceu o rosto:

— Não mencione essa ingrata! Bastou ouvir umas verdades que fugiu feito loba covarde. Se tanto gosta do mundo dos selvagens, que apodreça lá com eles!

Ivan assentiu, calmo:

— Melhor assim. A Linda precisa de tranquilidade.

Natã apareceu com uma tigela de sopa de frutas espirituais e, meio brincando, disparou:

— E aí, já decidiu quando vai romper o Contrato de Companheirismo com a Coni? Se demorar muito, minha irmã pode acabar nos braços de algum outro macho bonito e forte... aí não vai ter choro que resolva.

Ivan corou levemente, e murmurou:

— Na verdade... vim também para visitar a Linda e conversar sobre isso hoje.

Uma amargura se espalhou pelo meu peito.

Dei um sorriso torto e me virei, sem coragem de continuar assistindo àquela cena.

Ser esquecida, descartada… isso eu já deveria ter aceitado.

Anoiteceu.

Mamãe recolheu-se sozinha no quarto. Algo nela estava estranho, inquieto.

Aproximei-me. Espiei por cima de seu ombro.

Ela digitava. No celular. Para mim.

— Coni... chega disso... volta pra casa...

— Atenda, por favor.

— Para de drama! Você quer mesmo me ver preocupada?

A 99ª chamada.

Sem resposta.

Ela gritou e atirou o telefone no chão com fúria:

— Acha que vou me importar?! Fica se fazendo de morta agora?!

Eu quis gritar de volta:

“Mãe... não é fingimento.Eu morri.Morrida de verdade.Porque vocês escolheram cuidar de arranhões enquanto meu coração era devorado por veneno.”

Mas não saiu nenhum som.

Mamãe, sem desistir, discou de novo.Desta vez, para a curandeira aprendiz que cuidava de mim.

— A Coni está se escondendo com você, não está? Diga a essa descarada que isso não vai funcionar. Se ela tiver um pingo de vergonha e se ajoelhar diante da Linda, ainda posso... talvez... permitir que ela continue sendo parte desta família!

Do outro lado, silêncio.

E então, a voz:

— Curandeira-Chefe, a Coni faleceu há cinco dias.

O veneno já tinha alcançado o coração naquela manhã.E naquele dia... todas as curandeiras foram enviadas ao quarto da Linda.

Não sobrou ninguém para salvá-la.
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