No quarto, já seca e vestida com uma roupa confortável, Ava fica diante do espelho e usa uma toalha para secar seu cabelo molhado.Enquanto faz isso, seus olhos se desviam para a mesa de cabeceira, onde repousava um pedaço de papel meio amassado, onde havia escrito algumas condições para aquele casamento acontecer. Ela franze o cenho e, ainda esfregando a toalha nos fios úmidos, pega o papel para reler.Ela passa os olhos pela lista, mas trava na primeira linha: “Sem contato físico.”Bufando alto, revira os olhos.— Parabéns para mim — murmura, jogando o papel de volta na mesa.Havia acabado de quebrar a primeira regra, que ela mesma havia criado — e da maneira mais escandalosa possível.Frustrada consigo mesma, termina de secar o cabelo com um pouco mais de força do que o necessário e joga a toalha de lado. Depois, senta-se na beira da cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos, enterrando o rosto nas mãos.Mesmo depois do banho, o cheiro de Hector ainda parecia grudado nela, como s
Sentindo ainda o efeito do sonho perturbador com Hector, Ava só consegue adormecer quando o céu já começa a clarear. Às oito da manhã, a porta do quarto se abre devagar e Doris entra com uma bandeja de café da manhã nas mãos. Ao ver que Ava ainda dorme, se surpreende. Ela raramente ficava na cama até tão tarde.Preocupada, Doris se aproxima e toca a testa dela com a palma da mão, checando se havia febre. A pele de Ava, porém, está morna e normal. No entanto, ao sentir o toque, Ava se remexe, abrindo os olhos lentamente, confusa, até se dar conta de onde está.— Bom dia, Ava — Doris a cumprimenta com um sorriso gentil.— Bom dia, Doris — ela responde, com a voz ainda arrastada de sono.— Não queria te acordar, mas estranhei você ainda estar dormindo a essa hora.Ava se espreguiça devagar e suspira.— É que não consegui dormir à noite — admite, esfregando os olhos.— Ah, não? — Doris pergunta, agora com a expressão cheia de preocupação. — Aconteceu alguma coisa?— Não, não aconteceu nad
Após ouvir todo o desabafo de Doris, Ava sente um aperto no peito. Uma pontada de culpa a atravessa ao se dar conta de que, nas últimas semanas, havia sido dura demais com aquela mulher, alguém que, no fundo, só estava tentando sobreviver a um passado que ainda sangrava por dentro.Quando Doris sai do quarto, com passos silenciosos e a cabeça baixa, Ava fica ali, olhando para a porta fechada.E, sem pensar duas vezes, faz uma promessa silenciosa a si mesma: não vou usar essa dor contra ela. Nunca.Doris merecia, ao menos, esse respeito.Determinada a limpar a cabeça, Ava se levanta, veste um casaco leve, calça um par de tênis e desce para o jardim. O ar fresco do lado de fora a envolve como um abraço suave. Respirando fundo, deixa que a brisa leve apague um pouco a confusão de sentimentos que ainda corre dentro dela.A casa de Hector fica próxima à praia e, de onde está, ela consegue sentir o cheiro do mar misturado ao perfume das flores que cercam o jardim. Sentia uma vontade enorme
O silêncio que se instala entre eles pesa mais do que qualquer resposta.Mas Ava mantém o queixo erguido, tentando se agarrar à firmeza que lhe resta, mas o olhar de Hector, tão certo, tão desafiador, a desnorteia mais do que gostaria de admitir.Ele se aproxima mais, como se desafiasse os limites que ela mesma impôs.— Acho que não vai ser tão fácil quanto você imagina — murmura, com a mesma voz rouca que usou à noite quando estavam na piscina.Mas Ava não se move. Não recua.— O que quero ou deixo de querer, não diz respeito a você — rebate ela, com a voz fria e firme, mesmo que seu coração bata descompassado no peito. — Não quero me distrair com os seus joguinhos, Hector Moreau — dispara, cortante. — Só estou aceitando esse casamento porque preciso da sua ajuda — ela continua, sem lhe dar espaço para interromper — e você me prometeu que me ajudaria com o meu ex-noivo.Fingindo pensar por um instante, Hector passa a mão pelos cabelos desagradavelmente, como se estivesse ponderando a
Respirando fundo, Ava tenta manter a calma que ameaçava se desfazer a cada batida do coração.Então, sem rodeios, decide perguntar:— O que exatamente ele queria?Com a expressão tranquila — tranquila até demais para o gosto dela, Hector responde:— Ele me perguntou sobre o que eu queria dizer… quando nos encontramos no seu velório — responde.Sentindo um arrepio subir pelas costas, ela questiona:— E o que você disse a ele? — pergunta.Sorrindo de leve, ele diz com um tom casual:— Uma frase bíblica.A testa de Ava se franze imediatamente, sem entender onde aquilo se encaixava. O que ele queria dizer com isso? Que tipo de joguinho era esse?Hector observa a confusão nos olhos dela e o sorriso em seus lábios se alarga, claramente se divertindo com a situação.— Vai começar a pregar agora também?Passando a mão devagar pela barba bem feita, Hector sorri da ironia dela.— Eu só queria consolá-lo de alguma forma — zomba.— Com uma frase bíblica? Me diga que frase foi essa? — pergunta, te
— Não acredito, eu vou ser mãe!Ava mal podia acreditar no que estava vendo. Em frente ao espelho do banheiro de seu escritório, lá estava ela, segurando um teste de gravidez com o resultado positivo que tanto sonhou.Desde que perdeu seu primeiro bebê num aborto espontâneo, o médico disse que seria bem difícil engravidar de novo. Mas agora, olhando para o resultado positivo nas suas mãos, tinha certeza de que estava vivendo um milagre.As lágrimas começaram a cair sem controle. Era um misto de alegria e alívio depois de tanto tempo tentando.— Não posso guardar essa notícia só para mim — ela murmura, já imaginando a cara de surpresa do seu noivo.Ajeitando a maquiagem borrada e a roupa elegante que usava, ela sai do escritório com a postura altiva, que sempre teve diante de seus funcionários.Quem não a conhecia pensava que ela não passava de uma herdeira poderosa que tinha o mundo inteiro em suas mãos, E, bom, ela meio que tinha.Mas… a sua vida pessoal era bem diferente do que apar
O som insistente de um bip de um aparelho médico desperta Ava, que se esforça para abrir os olhos, no entanto, está excessivamente debilitada para fazê-lo.Com dificuldade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas não reconhece o lugar onde está. Com um esforço extra, tenta mais uma vez abrir os olhos por completo e, após algum tempo, consegue.— Como você está se sentindo? — uma voz masculina ecoa pelo ambiente. Virando o rosto em direção ao lugar de onde vem a voz, Ava avista um homem sentado numa poltrona ao lado da cama.— Onde eu estou? — murmura, com a voz fraca.— Eu te perguntei como está se sentindo — O homem insiste, um pouco mais firme. Reunindo a pouca força que lhe resta, Ava abre os olhos completamente e encara o homem ao seu lado. Ele está vestido em um elegante terno preto e a observa com um olhar intenso e sério, aguardando ansiosamente por uma resposta. — Estou sentindo muita dor, em todo o meu corpo — responde. — Mas a minha cabeça é a que mais dói — acres
A pergunta de Ava pega Hector tão de surpresa, que ele fica inquieto por alguns milésimos de segundo.Mesmo com a falta de memória, ele nota que Ava continua inteligente e perspicaz. O que lhe atrai a atenção. No entanto, Hector também é um homem astuto, por isso, formula rapidamente uma desculpa que possa convencê-la.— Meu amor, você está sob cuidados médicos. O médico recomendou que evitássemos usar qualquer coisa que pudesse transmitir bactérias, inclusive alianças — explica. — Se notar a sua mão direita, verá que também está sem o anel.A resposta parece convencê-la por um momento. Contudo, para Ava, já não bastava estar atordoada por não conseguir se lembrar de nada da sua vida, agora estava diante de um homem totalmente estranho, que diz ser seu noivo. Aquilo soa mais assustador do que imagina.— O doutor supôs que você poderia não se recordar do que aconteceu — comenta Hector, tocando levemente a mão dela, aproveitando-se da situação vulnerável que ela enfrentava. — Então vim