Na manhã seguinte acordei cedo. Tá, não tinha nenhum galo cantando aqui — afinal, eu estava em um dos hospitais mais importantes de São Paulo, e com certeza não tem nenhum galo aqui. Mas quis dizer que acordei cedo, como sempre.
Na verdade, é normal para mim, mas hoje eu estava exausta. Na real, muito cansada. Só que não consegui dormir mais, depois de tudo o que aconteceu em tão pouco tempo. Levantei da cama, calcei os chinelos e fui direto para o banheiro. Apoiei as mãos na pia e me encarei no espelho. O reflexo que vi foi de uma mulher com o cabelo todo desgrenhado, rosto pálido e olheiras marcadas. Suspirei fundo, peguei a escova de dentes e comecei a minha higiene matinal. E, junto dela, vieram também as lembranças do dia anterior. O médico havia dito sobre a Sofia. Ela teria que ficar internada por mais ou menos dois meses, por causa do novo tratamento. Ele queria se certificar de que estava funcionando bem e também prevenir algumas recaídas no início. Afinal, todo cuidado era necessário nesse período. Quando ouvi isso, me senti ainda mais sozinha. Dois meses longe da minha irmã. Eu sabia que ela também iria se sentir assim, mas prometi a mim mesma que viria vê-la sempre que não estivesse trabalhando. Porque, a partir de amanhã, eu já começaria a procurar emprego. Depois de terminar minha higiene matinal, incluindo o banho, me vesti com uma calça jeans gasta, um moletom preto simples e um tênis branco já bem usado. Mas era o que eu tinha, e eu agradecia a Deus, porque havia gente que não tinha nem isso. Depois de sair da casa da Margo, trouxe essa roupa comigo. Na despedida, senti que ia morrer de saudade dela — minha irmã de coração. Mas era o sonho dela, e eu sabia que logo voltaria. Saí do quarto e atravessei para o da Sofia — era bem ao lado, por causa do "loiro", que havia arranjado esse quarto especial para que eu não precisasse dormir em cadeira enquanto ficasse aqui. Me aproximei da cama dela e fiquei admirando seu rosto. A cor normal de sua pele já estava voltando. Toquei de leve o pulso dela, fechei os olhos para sentir melhor, e percebi que estava retornando à normalidade. Sorri aliviada e dei um beijinho no nariz dela. Pode parecer uma coisa pequena, mas para mim foi um sinal de esperança. Infelizmente, Sofia ainda não havia acordado. O médico explicou que ela poderia ficar assim uns três dias, até que os novos remédios se adaptassem ao organismo. Mas não importava quanto tempo demorasse — eu estaria aqui quando ela abrisse os olhos. — Eu te amo muito, tá? Estou esperando por você, maninha. — sussurrei, dando mais um beijo. Foi então que ouvi uma batida na porta. Afastei-me e vi o médico entrando. — Bom dia, senhorita Aurora — disse ele com um pequeno sorriso, enquanto ia até os aparelhos ligados à Sofia. — Bom dia, doutor. O senhor pode me dizer como minha irmã está? — perguntei. Ele acenou com a cabeça, analisando cada detalhe: os aparelhos, o pulso, os olhos, o coração. Depois se virou para mim. — Posso dizer que os novos medicamentos estão se saindo bem, mas ela precisa continuar sob observação. Eu sabia o que aquilo queria dizer: ela estava se recuperando, talvez devagar, mas estava. — Obrigada, doutor. Essa é uma notícia maravilhosa! — falei, empolgada. — Disponha. Sua irmã é forte, vai se recuperar, pode ter certeza — respondeu. — Obrigada mesmo, doutor. E, por favor, me chame de Aurora. Não gosto desse "senhorita". Ele riu baixinho. — Só se você me chamar de Vittorio. — Não posso. — Pode sim. Se não, continuo chamando você de senhorita — insistiu. Revirei os olhos e acabei cedendo: — Tá… mas só quando não tiver ninguém aqui, Vittorio. Ele sorriu satisfeito. — Por mim, tudo bem, Aurora. Depois ficou aquele silêncio estranho, até que ele sugeriu que eu fosse tomar café. Explicou que o loiro — Leonardo — havia pago todas as despesas do hospital: tanto o quarto da Sofia quanto o meu, além das refeições. Me despedi do Vittorio e da minha irmã e fui até o refeitório. Eu precisava me alimentar, até porque Leonardo tinha dito que teríamos um baile. Desde a morte do meu pai eu quase não comia. Não era porque eu queria, era a falta de apetite mesmo. Mas resolvi tentar. Pedi uma salada — que eu amo, não por dieta, até porque já sou magrela o suficiente — e um suco natural de abacaxi. Enquanto comia, os pensamentos sobre o baile voltaram à minha cabeça. Ainda não acreditava que iria para um baile. Não aqueles da escola, que eram normais, mas um baile de verdade, cheio de gente rica e olhares superiores. Eu sabia que era apenas a esposa de contrato do loiro, mas mesmo assim… não pertencia àquele mundo. Isso me deixava com medo. Depois de terminar, fui para o jardim do hospital. Observei as flores coloridas, os pássaros lindos, e aquilo me trouxe um pouco de paz. Mas, ao voltar para o quarto, dei de cara com o motorista do loiro. O senhor Pedro. — Bom dia, senhora — cumprimentou. — Bom dia, senhor Pedro. — Sem "senhor", senhora. Só Pedro — disse ele, rindo de leve. — Tá bom, mas só se você me chamar de Aurora, combinado? Ele respirou fundo. — Pelo menos quando estivermos a sós, Aurora. Sorri. — Assim está melhor, Pedro. Era estranho chamá-lo assim, até porque ele parecia mais velho que meu pai. Mas eu tentaria me acostumar. — Aurora — disse ele em seguida —, vim a mando do senhor Leonardo. Ele pediu que eu a levasse até o local onde será arrumada. Arqueei a sobrancelha. — Pensei que ele mandaria trazer o vestido aqui. — Não. Ele pediu especificamente para que eu viesse buscá-la. Fiquei confusa. Esse homem mudava de ideia o tempo todo. Meu estômago deu um nó. Será que queria me matar? Não, claro que não. Eu era útil para ele, e tecnicamente sua esposa. Ele não faria isso. Espero. — Tá. Vou só pegar minha bolsa e me despedir da minha irmã. Ele assentiu. Corri até o quarto da Sofia, peguei minha bolsa e meu celular velho, dei outro beijinho no nariz dela e me despedi de Vittorio. Logo depois, já estava no carro com Pedro, sem ideia de para onde iria. Dez minutos depois, chegamos a um hotel enorme. Para ver o topo, precisei erguer bem a cabeça. Pedro abriu a porta para mim. — Obrigada, senhor Pedro. — Disponha, senhora. Entramos no hotel e fiquei maravilhada. Tudo era dourado, e o que não era dourado era verde. Parecia feito de ouro de verdade. Logo vieram quatro recepcionistas: dois homens e duas mulheres. Eles nos olharam confusos, depois para Pedro, que se adiantou. — Bom dia a todos. — Bom dia, senhor Pedro — responderam em uníssono. — E o senhor Vasconcellos? — perguntou uma mulher ruiva, de olhos azuis intensos. Logo percebi que ela não era boa pessoa. Olhava para mim como se eu fosse lixo, mas para Pedro seu olhar suavizava. — Ele não virá hoje, mas a senhora aqui é sua convidada — explicou Pedro. Todos assentiram, menos a ruiva, que ficou indignada. — Isso é sério? Eu não vou servir um cão de rua. Uau! Me surpreendi com a sinceridade arrogante dela. Normalmente nas novelas, os vilões falam isso quando estão sozinhos com a mocinha. Mas essa foi direto ao ponto. Pedro deu um passo à frente, mas ergui a mão para que parasse. — Ah, sério? — falei, fingindo procurar ao redor. — Onde está o tal cachorro? Não estou vendo. — Está bem na minha frente — disse ela, cheia de si. — Ah, claro. Só mesmo outro cachorro para reconhecer um. Os olhos dela se arregalaram, chocados com minha resposta. Os outros recepcionistas prenderam o riso, e eu podia jurar que um deles até tossiu para disfarçar. A ruiva, vermelha de raiva, cruzou os braços e me lançou aquele olhar venenoso. — Você não sabe com quem está falando. Dei um passo à frente, erguendo o queixo. — Pois é. Mas você também não sabe. Se soubesse, não teria tanta coragem para abrir a boca e me chamar de cachorro. O saguão ficou em silêncio. Pedro pigarreou, desconfortável, mas não interveio. A ruiva abriu a boca para retrucar, quando uma voz firme ecoou atrás de nós: — O que está acontecendo aqui? — perguntou uma voz feminina.