LARA
A manhã nasce sem cerimônia. Sem sol tingindo as paredes de dourado, sem cheiro de café recém-passado invadindo a cozinha, sem aquela sensação de que o dia pode trazer qualquer coisa boa. O céu está acinzentado, como se o mundo lá fora soubesse o que está prestes a acontecer aqui dentro. E, mesmo assim, continuasse.
Tomo banho no automático. Escolho uma roupa sem pensar — jeans e blusa de linho azul-clara, como se tentar parecer calma fosse o suficiente para me manter de pé. Prendo o cabelo em um rabo baixo e ignoro a olheira marcada no espelho. Nada que um corretivo não tente disfarçar.
Mas por dentro, não há maquiagem que esconda.
Acordei no chão do closet e fui colocada de volta na cama por braços que conhecem meu corpo e minhas dores. Dorian não disse nada. Só ficou comigo até eu dormir de novo. E agora, ele está pronto. Já vestido. Terno escuro, camisa aberta no colarinho. Nenhuma gravata.
— Pronta? — pergunta, com voz baixa.
Não. Eu não estou pronta. Nunca estive. Mas digo