LARA

A porta do quarto se fecha atrás de mim com um clique suave, mas o som reverbera como um trovão dentro de mim. Meus passos me levam até o fim do corredor quase por instinto. Não quero ir para o nosso quarto. Muito menos para o jardim. Preciso de um lugar onde o mundo pare por um instante.

A biblioteca me acolhe em silêncio.

A luz natural entra pelas janelas altas, tocando as estantes com uma reverência antiga. O cheiro de papel, couro e madeira encerada me abraça com mais cuidado do que qualquer pessoa conseguiria fazer agora. Encontro minha poltrona preferida — aquela perto da janela, com o estofado que já moldou meu corpo tantas vezes — e afundo nela como quem afunda no peito de alguém que ainda não cobrou nada.

Respiro. E só então percebo o quanto estou tremendo.

Não é só pelo que foi dito. É pelo que ficou entalado. Pela raiva contida. Pela tristeza que não gritou. Pelo amor que, mesmo ferido, ainda pulsa em cada sílaba trocada com minha mãe.

Fecho os olhos.

Não quero chorar