Sebastian
Do escritório, observo pela fresta da porta. Isadora está sentada no sofá com Enrico no colo, ninando-o devagar, o rosto quase colado ao cabelinho do nosso filho. A cena deveria me trazer paz, mas me atravessa como uma lâmina.
Ela canta baixinho, e mesmo de longe percebo a voz embargada. Isadora está chorando, mas tenta esconder as lágrimas, mordendo o lábio para não fazer barulho. E eu fico parado aqui, feito um covarde, incapaz de ir até ela.
Minha mão aperta a maçaneta, mas não tenho coragem de girá-la. Sinto uma culpa ácida subir pela garganta. Eu a amo, mais do que qualquer coisa nessa vida, mas é como se a cada vez que tento protegê-la de tudo o que me corrói, eu só conseguisse empurrá-la para longe.
Enrico adormece, e Isadora o entrega para a babá, que surge discretamente para levá-lo ao quarto. Ela fica sozinha na sala, olhando para o vazio. A imagem me quebra por dentro.
Quero correr até ela, puxá-la contra mim, pedir desculpas mil vezes. Mas algo em mim