O relógio quase marca 18h quando a porta do meu escritório se abre devagar. Isadora surge ali, o cabelo caindo solto sobre os ombros e o olhar sereno, ainda que levemente cansado.
— Estou indo pra casa — ela avisa, apoiando a pasta contra o quadril.
Levanto os olhos dos papéis e me ajeito na cadeira.
— Eu vou com você.
Ela franze a testa, como quem não entende.
— Não precisa. Vou com os seguranças.
— Estava esperando você para ir embora, Isa. — Minha voz sai firme, sem espaço para discussão.
Ela hesita por um instante, mas não insiste. Apenas solta um “tudo bem” antes de me esperar fechar o computador.
O trajeto de volta é silencioso. A chuva fina da tarde ainda marca o vidro do carro, e observo o reflexo da cidade apagada pelo céu cinzento. Isadora se perde em pensamentos, e eu não tento interromper.
Assim que chegamos, vamos direto para o quarto de Enrico. Ele está dormindo profundamente, o peito subindo e descendo num ritmo tranquilo, e as mãozinhas fechadas.