O aguaceiro martelava o telhado como se quisesse atravessar a telha, compondo uma espécie de sinfonia irregular que me manteve numa fronteira nebulosa entre sonho e vigília. O mundo, lá fora, parecia dissolvido num lençol de névoa e asfalto escuro. Dentro do quarto, um espaço amplo, iluminado apenas pela luz leitosa que entrava pelas frestas da cortina, eu sentia o cheiro distante de madeira encerada e lençóis limpos.
Ainda de olhos fechados, percebi um beliscão leve no calcanhar esquerdo. Outro. Mais outro. Eu conhecia aquela provocação. Deixei rolar por alguns momentos, fingindo dormir, até ouvir a risada alta, tilintante e inconfundível do meu filho.
— Droga… — resmunguei, forçando as pálpebras a se abrirem ao mesmo tempo em que me virava de lado. — Joshua…
Ele se agachou, tentando esconder-se atrás da beirada da cama. Mas o redemoinho dos cabelos ruivos dele, herança da mãe, denunciou o esconderijo antes mesmo que eu erguesse o tronco. Estava sozinho entre os lençóis.
Num moviment