Natália Smith
Ainda me pergunto o que se partiu dentro de mim, quando acordei nos braços de Matteo e o coração latejou num compasso de urgência. O cheiro dele, uma junção quase cruel de madeira quente, tabaco suave e sal da própria pele, trazia conforto, mas, ironicamente, foi esse aconchego que acendeu um pânico feroz no meu peito.
Entregar o coração a alguém sempre me pareceu loucura. Com Matteo, essa loucura ganhou contornos de abismo. Porque ele não se encaixa em nenhum molde que eu tenha conhecido: não é o cafajeste assumido que vira conquista de uma noite, não é o amante sofisticado que coleciona para diversão e depois arquiva como recordação erótica. Matteo é uma presença que ocupa cada espaço da sala e, ao mesmo tempo, se faz leve ao me envolver no silêncio.
Na véspera, juro, eu planejava algo muito diferente: sexo cru, suado, quase violento. Queria sentir os lençóis grudando na pele, a garganta rouca pedindo por mais. Tínhamos combinado uma fuga clichê para um motel, daquele