2 - Notada

No alto da escada principal, com uma taça de vinho na mão e a máscara preta escondendo metade do rosto, Dorian Villeneuve a observava atentamente.

Ele não sorriu. Mas também não desviou.

Francine prendeu a respiração.

O plano era encontrar o olheiro primeiro. Mas foi o dono da festa que a encontrou.

Ela mordeu o lábio de leve e caminhou mais fundo no salão.

Chegou ao bar com o andar mais elegante que conseguiu sustentar. A fenda do vestido balançava no ritmo da música.

Ela se sentou, respirou fundo e fingiu total controle da situação.

— Me vê um Negroni, por gentileza — disse, com a voz mais aveludada que tinha.

— Dois, por favor — uma voz grave completou atrás dela.

Francine congelou por dentro.

Dorian. 

Ele sentou-se na banqueta ao lado como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Ela não ousou olhar direto, apenas sorriu de leve e manteve o foco no bar.

Ele também não pareceu reconhecê-la.

Claro que não reconheceria.

Em quase um ano naquela casa, ele mal sabia o nome dos empregados. Pra ele, eram parte da mobília.

Francine odiava isso nele. Mesmo achando aquele homem um charme de dar raiva.

— Você parece desconfortável — ele disse, sem tirar os olhos dela.

— Você parece convencido.

— Acha mesmo?

— Tenho certeza. Só alguém muito seguro de si sentaria do lado de uma mulher desconhecida num baile de máscaras e pediria o mesmo drink.

— Talvez eu só tenha bom gosto.

— Talvez você seja só inconveniente mesmo.

Dorian sorriu.

Ela virou o rosto. Não podia deixar ele perceber que tinha achado graça.

— Gosto de mulheres sinceras — ele disse, recebendo o copo do barman.

— Eu gosto de homens que não acham que tudo gira em torno deles.

— Então vai ser difícil você gostar de mim.

Ela encarou ele pela primeira vez.

Olhos cinzentos, expressão calma, aquele tipo de beleza perigosa que fazia a gente querer um cigarro mesmo sem nunca ter fumado.

— Eu nunca disse que queria gostar.

— Ainda.

Francine riu.

— Nossa, você se supera. Vai tentar me hipnotizar com frases prontas agora?

— Posso tentar outra coisa.

Ele estendeu a mão.

— Me concede essa dança?

Ela olhou pra mão dele por dois segundos a mais do que deveria.

Céus, ela tava mesmo entrando nessa?

— Só se você não tentar me enforcar com o ego no meio do caminho.

Dorian sorriu mais uma vez.

— Prometo tentar controlar.

Ela colocou a mão na dele. Quente. Firme.

E foi com ele para o centro do salão.

Da porta, Otávio observava a cena, com a mão na testa.

— Ah, Francine… você vai acabar me matando do coração.

Francine já tinha ido a muitas festas na época de modelo.

Sabia exatamente o que estava tocando só pelo primeiro acorde.

O vestido, apesar de escandaloso, era surpreendentemente confortável.

Ela se movia com graça. E estava completamente à vontade.

Dorian, por outro lado, parecia hipnotizado. Imóvel. Como se o cérebro dele tivesse travado tentando entender quem era aquela mulher.

Francine percebeu. E decidiu brincar com isso.

Ela começou a girar em volta dele, devagar. Os olhos fixos. O sorriso malicioso.

Será que ele não sabia dançar? Ou estava só... encantado?

Ela não se importava. Aquela era a chance da vida dela — e ela ia aproveitar até a última gota.

Mas então, num movimento rápido, Dorian a segurou pela cintura.

As mãos firmes. O olhar intenso.

E começou a conduzi-la com uma perfeição que arrepiou até a nuca dela.

O salão, como que por mágica, se abriu. As pessoas pararam de dançar, abrindo espaço.

Todos assistiam.

Francine não se intimidou. Pelo contrário.

Ela se entregou à dança. Rodopiava com confiança, o sorriso cada vez mais provocante.

E Dorian... Ele já não via mais ninguém. Nem música ele parecia ouvir.

Só o sorriso dela.

No meio de uma volta, um garçom passou com uma bandeja cheia de taças.

Francine agarrou uma.

Sem parar de dançar, virou o copo de uma vez só.

Dorian arqueou a sobrancelha.

— Precisa de coragem pra dançar comigo?

Ela riu.

— Estou só aproveitando. Não sei quando vou ter outra oportunidade dessas. Sua festa acontece só uma vez por ano, lembra?

Ele a encarou por um segundo.

A música, o salão, as pessoas… tudo pareceu ficar em segundo plano.

— Tem razão.

Outro garçom passou.

Dorian pegou uma taça e, sem cerimônia, virou o conteúdo de uma vez só.

Brindou no ar, com o copo vazio.

— Às oportunidades únicas.

Francine sorriu de canto, provocando.

— E às decisões que a gente vai se arrepender amanhã.

— Ou não — ele respondeu, puxando-a novamente para mais perto.

Dessa vez, as mãos dele desceram um pouco mais pela cintura dela.

Ainda respeitoso, mas com uma ousadia calculada.

Ela percebeu. E gostou.

Por um instante, eles dançaram em silêncio. Só os corpos conversando.

Os olhos se cruzavam. Os passos fluíam.

Francine não era mais a empregada. Naquele momento, ela era a mulher mais desejada do salão.

E Dorian estava cada vez mais certo disso.

Mas então, uma mão surgiu entre os dois.

— Me concede essa dança, senhorita?

Um convidado, elegante, já sorria pra ela com a confiança de quem achava que tinha alguma chance.

Francine hesitou por um segundo. Mas aceitou.

— Claro — disse, piscando pra Dorian como quem diz a noite é longa.

Dorian se afastou com elegância. As mãos nos bolsos, o olhar firme.

Ficou ali parado, observando.

Ela rodopiava nos braços do outro com a mesma leveza. Sorria. Jogava o cabelo.

Comandava o salão como se tivesse nascido pra aquilo.

Quem era ela, afinal?

Dorian pegou mais uma taça da bandeja de um garçom e bebeu num gole só.

Como se isso fosse colocar juízo na cabeça dele. Mas só deixou o fogo subir mais.

Ele não era do tipo que competia por atenção. Mas aquela mulher...

Ela era diferente.

E ele estava determinado.

Deixou a taça vazia na bandeja e atravessou o salão com passos firmes.

Parou ao lado dela.

— Posso ter a dama de volta? — perguntou, a voz baixa e direta.

O outro convidado nem discutiu.

Soltou Francine como se tivesse entendido que o jogo estava acima dele.

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