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Capítulo 4 — O Quase Beijo

A tempestade começou ao cair da noite. O céu, antes limpo, se transformou em um mar de nuvens escuras, e os trovões faziam a mansão Monteiro estremecer. Camila, deitada em sua cama, não conseguia dormir. O barulho da chuva era forte, mas não era apenas isso que a mantinha desperta. Era a sensação de estar presa, a cada dia mais, em um jogo que não entendia completamente.

Decidiu descer até a sala para buscar um livro. O corredor estava silencioso, iluminado apenas por lâmpadas fracas que projetavam sombras longas nas paredes. Ao chegar à escada, ouviu vozes abafadas na sala principal. Aproximou-se com cautela.

Era Ricardo e Beatriz discutindo.

— Você não precisa vigiar cada passo dela, Beatriz. — A voz de Ricardo era firme, mas baixa. — Isso não vai mudar nada.

— Não me venha com sermões, Ricardo. — retrucou Beatriz, em tom cortante. — Essa garota está aqui por uma única razão: nos dar um filho. Nada mais.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Camila sentiu o rosto arder. Não queria ouvir, mas não conseguiu se mover.

— Às vezes me pergunto se você lembra que eu também estou nesse casamento. — disse Ricardo, com amargura.

Beatriz riu, fria. — Ah, eu lembro. Só não tenho certeza se você lembra.

O som de passos ecoou, e Camila se afastou rapidamente, correndo de volta ao corredor. O coração batia forte. Quando ouviu a porta da sala se fechar, percebeu que Ricardo estava sozinho.

Instantes depois, ele surgiu no corredor. Camila congelou.

— Não consegue dormir? — perguntou, surpreso, mas sem hostilidade.

Ela balançou a cabeça. — A tempestade…

Ricardo suspirou. — Eu também não consigo.

Houve um momento de silêncio, apenas a chuva castigando os vitrais. Então ele se aproximou. — Venha. Quero te mostrar uma coisa.

Camila hesitou, mas o seguiu até uma das salas laterais, que ela ainda não conhecia. Era uma biblioteca imensa, com estantes que iam até o teto e cheiro de madeira antiga. Uma lareira acesa aquecia o ambiente, lançando sombras dançantes.

— Este é o meu lugar favorito da casa. — Ricardo disse, abrindo uma das estantes. — Aqui consigo esquecer, por alguns instantes, a prisão que é essa mansão.

Camila percorreu os olhos pelos livros. — É lindo.

Ele se aproximou da lareira, ficando iluminado pelo brilho das chamas. — Camila, sei que isso tudo é estranho para você. Não quero que se sinta sozinha aqui.

Ela sentiu o coração acelerar. — Já me sinto sozinha, Ricardo. Desde que cheguei.

Os olhares se encontraram, e naquele instante algo mudou. Não era apenas empatia. Era desejo. Forte, proibido, impossível de disfarçar. Ricardo deu um passo à frente. Camila recuou levemente, mas seus olhos permaneciam presos nos dele.

— Você não deveria olhar para mim assim. — ela sussurrou, a voz trêmula.

— Nem você. — Ele respondeu, a respiração pesada.

Os segundos seguintes pareceram eternos. Ricardo ergueu a mão, tocando de leve o rosto dela. Camila fechou os olhos por reflexo, sentindo o calor daquele toque. O coração dela batia tão rápido que parecia que iria explodir.

Ele se inclinou, lentamente. Os lábios estavam a poucos centímetros dos dela. Camila queria fugir, mas seus pés estavam enraizados no chão. Uma mistura de medo e desejo a dominava.

O trovão ribombou, alto, como se o próprio céu protestasse. Camila estremeceu. Ricardo recuou apenas o suficiente para olhar em seus olhos.

— Não posso. — murmurou, num tom quase dolorido.

Camila respirava ofegante. — Nem eu.

Mas nenhum dos dois se moveu. Permaneceram ali, presos naquele instante, desejando o que sabiam não poder ter.

De repente, passos ecoaram no corredor. A porta da biblioteca se abriu com força. Uma empregada entrou, assustada.

— Senhor Ricardo, desculpe incomodar. A senhora Beatriz pediu para avisar que… a luz no quarto dela acabou de falhar.

Ricardo se afastou imediatamente, ajeitando a postura. — Já vou.

Camila, vermelha, recuou um passo, tentando disfarçar.

A empregada saiu, deixando o silêncio de novo.

Ricardo passou a mão pelos cabelos, nervoso. — Isso nunca aconteceu. Não pode acontecer.

Camila mordeu o lábio, tentando recuperar o fôlego. — Eu sei.

Ele respirou fundo, caminhou até a porta e, antes de sair, lançou-lhe um último olhar. Um olhar que dizia muito mais do que palavras: a linha havia sido cruzada, ainda que o beijo não tivesse acontecido.

Camila permaneceu sozinha na biblioteca, sentindo o corpo tremer. Sabia, no fundo, que aquele era apenas o começo de algo muito maior — e muito mais perigoso.

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