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Capítulo 3 — Sob o Mesmo Teto

Os primeiros dias de Camila na mansão foram uma mistura de deslumbramento e inquietação. Tudo ao seu redor parecia saído de uma revista de luxo: os tapetes persas, os corredores longos adornados com obras de arte, o aroma constante de flores frescas vindas do jardim. No entanto, atrás da beleza, ela sentia o peso de estar sendo observada o tempo todo.

A cada refeição, a cada movimento, havia olhos atentos. Empregadas discretas, médicos sempre à disposição e, acima de tudo, a vigilância constante de Beatriz.

Na manhã de segunda-feira, Camila desceu para o café da manhã e encontrou a mesa farta: frutas exóticas, pães variados, sucos coloridos. Mas o clima era pesado. Beatriz já estava sentada, com o celular em mãos, e levantou os olhos apenas quando a jovem se aproximou.

— Bom dia, Camila. — O tom foi cortês, mas carregado de frieza. — Espero que esteja confortável no quarto.

— Está sim, senhora. — Camila respondeu educadamente, tentando esconder o desconforto.

Ricardo apareceu em seguida, usando uma camisa branca dobrada até os cotovelos. Cumprimentou-as com naturalidade, sentando-se ao lado da esposa. Quando seus olhos cruzaram os de Camila, por um instante, algo queimou no ar. Ela desviou o olhar rapidamente, tentando se concentrar no prato à sua frente.

Beatriz percebeu.

— Camila, durante sua estadia, terá um cronograma de atividades. — Disse, pousando a xícara de café com elegância. — Exercícios leves, consultas médicas regulares e uma dieta balanceada. Quero que entenda: nosso filho precisa de cuidados impecáveis.

A palavra “nosso” pesou no ar.

Camila assentiu, engolindo em seco. — Eu entendo.

Ricardo pigarreou. — Não precisa assustá-la, Beatriz. Ela já aceitou esse compromisso.

— Não estou assustando, Ricardo. — A esposa retrucou, com um sorriso frio. — Apenas estabelecendo regras claras.

O silêncio que se seguiu foi desconfortável. Camila se sentia no meio de uma batalha silenciosa, uma disputa de olhares que dizia muito mais do que as palavras.

No fim da tarde, Camila decidiu caminhar pelo jardim para respirar. O lugar era magnífico, com rosas vermelhas, fontes de mármore e bancos de ferro trabalhado. Sentou-se, tentando relaxar, quando ouviu passos se aproximando.

Ricardo surgiu, sem terno, apenas com calças sociais e a camisa aberta no colarinho. O sol dourado realçava os traços firmes de seu rosto.

— Precisa de companhia? — perguntou, com uma gentileza inesperada.

Camila hesitou. — Não quero atrapalhar.

— Você não atrapalha. — Ele se sentou ao lado dela. — Imagino que tudo isso seja difícil.

Ela suspirou. — É estranho… como se eu tivesse deixado de ser dona de mim mesma.

Ricardo ficou em silêncio por alguns segundos, observando o horizonte. — Eu entendo. Mais do que imagina.

O coração dela acelerou. — Por quê?

Ele a encarou, sério, os olhos carregados de algo que parecia dor. — Porque, às vezes, mesmo cercado de riqueza, a gente também é prisioneiro.

Camila sentiu um arrepio. Queria perguntar mais, mas antes que tivesse coragem, a voz cortante de Beatriz ecoou pelo jardim:

— Ricardo!

Os dois se viraram. A esposa se aproximava, impecável como sempre, mas com uma tensão evidente nos gestos.

— Estava te procurando. — Ela lançou um olhar rápido para Camila, quase de desprezo. — Não sabia que estava tão ocupado.

Ricardo se levantou, disfarçando o incômodo. — Estava apenas conversando.

— Conversando. — Beatriz repetiu, com um sorriso que não alcançou os olhos. — Camila, não se esqueça de que amanhã cedo tem consulta. Precisamos que tudo esteja perfeito.

Camila apenas assentiu, sentindo o coração apertado. Beatriz não precisava dizer em voz alta: estava deixando claro quem mandava naquela casa.

Naquela noite, já em seu quarto, Camila tentava escrever em um caderno antigo, como forma de organizar os pensamentos. Mas as palavras não vinham. A cada vez que fechava os olhos, lembrava-se do olhar de Ricardo no jardim. Um olhar intenso, proibido, que a perturbava mais do que gostaria de admitir.

De repente, uma batida suave na porta a fez sobressaltar.

— Camila? — Era Ricardo.

Ela correu para abrir, hesitando antes de destrancar. Quando o fez, encontrou-o do outro lado, com expressão séria.

— Desculpe incomodar. Só queria saber se está bem.

Camila sentiu a respiração falhar. — Estou… tentando me adaptar.

Por alguns segundos, ficaram em silêncio, apenas se encarando. A tensão era palpável, como se algo invisível os puxasse um para o outro. Ricardo parecia prestes a dizer algo, mas recuou.

— Boa noite, Camila. — murmurou, virando-se para ir embora.

A porta se fechou, mas o coração dela continuava disparado.

Enquanto tentava se acalmar, deitou-se e puxou o cobertor até o queixo. Não sabia ainda, mas aquele era apenas o começo de uma guerra silenciosa dentro da mansão: entre desejo e razão, segredos e aparências.

E, pela primeira vez, Camila se perguntou se teria forças para cumprir até o fim o contrato que assinara.

Do lado de fora, no corredor, uma sombra observava a porta fechada. Beatriz.

Ela havia visto Ricardo bater na porta e não precisava de provas concretas para entender o que estava acontecendo.

Seus lábios se curvaram em um sorriso gelado.

Ela jamais deixaria que alguém, muito menos uma jovem qualquer, roubasse o que era dela.

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