A chuva voltava a cair naquela noite como se o céu refletisse o que Ricardo sentia por dentro — um turbilhão de lembranças, culpa e amor que ele já não sabia onde começava nem onde terminava.
No escritório, o som das gotas batendo no vidro se misturava ao tic-tac lento do relógio.
O paletó estava jogado sobre a poltrona, a gravata solta, e o olhar perdido entre os papéis que ele fingia analisar.
Mas a verdade é que ele não conseguia se concentrar em nada.
Desde que Camila partira, tudo o que restava era o vazio da casa — e o eco do que eles foram.
Foi então que bateram à porta.
Helena apareceu no vão, com o rosto apreensivo.
— Doutor Ricardo... — a voz dela saiu quase num sussurro. — A senhora Beatriz passou aqui mais cedo.
Ricardo levantou o olhar, surpreso.
— Beatriz? O que ela queria?
— Disse que ia viajar. Que precisava “acertar as contas com o passado”.
Um arrepio percorreu as costas dele.
— Ela falou pra onde estava indo?
Helena hesitou. — Eu vi um papel sobre a mes