Mundo de ficçãoIniciar sessãoAcordei com os raios de sol queimando meu rosto.
Meus olhos ardiam. — Nove horas? — murmurei, sentindo o coração disparar. Pulei da cama e corri para o quarto de Claire. James estava lá, brincando com ela. O rosto dele iluminado por um sorriso tranquilo. — Acordou? — disse ele. — Sim! — respondi, sem jeito, aproximando-me devagar. Ele levou a mão até minha testa. Desta vez, não recuei. Mas algo em mim estremeceu. — O que está acontecendo aqui? — a voz de Odete invadiu o quarto, carregada de ciúmes. — Nada! — afastei-me de James, tentando parecer natural. — Só estava vendo se a febre dela tinha passado — ele explicou, sereno. — E nessa casa não tem termômetro? — retrucou Odete, firme. — E você veio só pra brigar? — devolveu James, visivelmente irritado. — Pode ir tomar café, Amélia. Eu fico com Claire. Saí rápido, o coração acelerado. Se ela reagiu assim a um simples toque, imagina se descobrisse que ele já me segurou nos braços… duas vezes. De volta ao quarto, tomei um banho demorado, tentando acalmar o corpo. Mas, ao sair, Odete estava sentada na cama — me observando como um predador. — Espero que não tenha esquecido o motivo pelo qual te contratei. Se eu suspeitar que nutre sentimentos por James, considere-se desempregada. — A senhora não entendeu… — Não quero explicações — cortou. — Recado dado. O dia passou quase sem incidentes. James se trancou no escritório, mergulhado em designs, enquanto eu corria pelo jardim com Claire. Ela só parou quando o cansaço venceu. Levei-a para o quarto, dei banho e nos deitamos no tapete, lendo uma historinha até adormecer. — Amélia? Abri os olhos ao reconhecer aquela voz. — Mãe...? Olhei ao redor. O quarto não era mais o de Claire — era um quarto de hospital, branco e frio. Sons de máquinas, bipes constantes. — O que estou fazendo aqui? — tentei me levantar, mas o corpo não respondeu. — Não se mexa. Vou chamar o médico — disse ela, saindo. Isso não pode ser real... ela está morta. — Acorda, Amélia... acorda... — murmurei, ignorando sua presença. — Por que está agindo assim? — perguntou, aproximando-se. — Porque preciso voltar pra minha filha! Por favor... desapareça! Isso não é real. Ela está morta. Implorei, sentindo que, a cada segundo naquele sonho, tudo se tornava mais real. — Você sabe que sua filha está morta. — Não. Você está morta! — gritei. — Minha filha continua viva... tendo outros como pais, porque você, com toda a sua prepotência e orgulho, me tirou o direito de ser chamada de mãe! — Eu já te disse, Amélia... ela está morta. Você precisa aceitar isso. — Acreditei nas suas palavras por meses — sussurrei, sentindo as lágrimas queimarem meu rosto — até encontrar a sua carta. A carta em que dizia por quem ela havia sido adotada. Então dei um jeito de me manter perto dela. Não posso ser sua mãe. Mas posso viver como sua babá. E tudo isso... por sua causa. De repente, senti algo me puxar com força. Abri os olhos. James estava diante de mim. Respirei aliviada ao perceber que tudo não passara de um sonho. — Senhor Collins... — murmurei, ainda tentando me situar. Olhei para a cama de Claire. Ela dormia tranquila. James continuava me encarando, com uma expressão entre preocupação e curiosidade. — Aconteceu alguma coisa, senhor Collins? — perguntei, disfarçando o nervosismo. — É que... — ele coçou a nuca. — Você estava tendo um pesadelo. E acabei ouvindo algo. Meu corpo inteiro estremeceu. — O que o senhor ouviu? — perguntei, o coração disparando. Ele hesitou antes de responder: — “Filha.” O silêncio se instalou entre nós. Então James completou, com a voz baixa: — Eu ouvi você dizer filha, Amélia. — Já teve alguma filha?






