Minha vida acabou!

Julia Davenport

Será que eu já blasfemei? Ou deus estava me castigando por ser uma filha traidora?

Deus, tinha que haver uma explicação para que a mulher alta e magra parada na minha frente fosse uma miragem. Desejei ter desmaiado apenas para que o que via diante dos meus olhos fosse uma alucinação causada pelo meu cérebro em colapso. Tinha que ser...

Qualquer outra coisa, Deus, menos isso...

— O gato comeu sua língua por acaso? Perguntei se posso entrar. — A mulher estalou os dedos bem perto do meu rosto, mas foram apenas nas unhas vermelhas, enormes que reparei.

Incapaz de falar ao sentir que a garganta se fechava, continuei parada e muda, como uma imbecil. Isso a fez semicerrar os olhos, me encarando em desafio. E antes que pudesse impedir a invasão, a ruiva entrou na casa, como se pertencesse a ela. Como se conhecesse cada detalhe daquela, quando eu não sabia de nada...

Meu coração se rasgava ao meio a cada olhar de desprezo que a mulher me dava, e sem que eu pudesse controlar, meus olhos se encheram de lagrimas. Sabia... eu sabia que estava desmoronando, mas, de uma hora para outra, eu havia perdido tudo. Olhando para a mulher linda, com a barriga redonda encarando seu celular, eu sabia que nada seria como antes.

Eu não tinha mais nada... nem ele.

Deus, porque eu o escolhi?

— Isso não tem como ser verdade... — Balbuciei em um fio de voz, desejando que fosse uma armadilha. — Quem mandou você me dizer essas coisas?

A sobrancelha dela arqueou. — Não acredita? — Questionou, com um sorrisinho que me dilacerava por dentro. Então virou a tela do celular, e fotos passaram diante dos meus olhos.

Dean, com ela, os dois na cama.

Eu não queria acreditar. Talvez nem pudesse.

— Você pode negar o quanto quiser, mas a verdade é que estamos juntos, e vamos ter uma menina linda…

— Pare... — Murmurei, minha voz mal podia ser ouvida. O nó parecia ter virado adagas, e agora perfuravam a minha garganta. Deus, não consigo respirar, ela não parava de falar, e eu já não aguentava mais. — Pare... apenas pare, droga! — Gritei, colocando tudo para fora.

Minhas mãos cobrindo os ouvidos para não ter que escutar o monologo, ou a história de amor que eu não conhecia.

— Julia, o que está... — A voz de Dean foi interrompida, e eu sabia bem o motivo. Ele não esperava vê-la comigo, e essa foi a pior parte... — O que você está fazendo aqui, Gwen?

Andei passos para trás, ferida, sangrando, prestes a morrer naquele momento. Eu sabia que meus olhos estavam perdidos, vagando por qualquer lugar, por que eu já não conseguia focar em nada. — Então é verdade... — Sussurrei.

Dean se virou na minha direção, aflito, como se o mundo dele tivesse desabado, mas incapaz de desmentir o que a mulher naquela sala representava entre nós dois. E droga, eu nunca o faria escolher, mas eu era a amante, e não ela. Nós namorávamos há três meses, e ela...  ela estava gravida há mais tempo.

— Jujuba...

— Não! Não me toque! — Sussurrei, mas Dean simplesmente não queria me ouvir. Isso machucou tanto, tanto. — Não. Me. Toque! — Gritei, mais alto dessa vez.

 Então me agarrou mais forte, porque, no fundo, sabia que estava me perdendo.

— Por favor, me deixe explicar...

— Explicar? Explicar oque? — Olhei para a mulher, e o sorriso dela era como esfregar na minha cara cada maldita verdade. — Você devia ter me contado isso desde o início. O que eu era para você? Devia ter dito que eu estava escolhendo a pessoa errada. — Arrastei a bagunça de cabelo para trás, desejando poder fazer o mesmo com a minha dor. —  Você é um monstro... meu deus, como você pode me tirar da casa do meu pai e depois... depois ISSO!

— Vou me casar com você, Julia. Só me deixe explicar. Sei que está chateada, mas...

O empurrei, usando o resto de forças que ainda tinha, sentindo que rompia não apenas o contato, mas a mim mesma também. A minha alma partida em pedaços como vidro...

— Eu não vou me casar com você nunca! Não vou ficar com um homem que me engana, que mente para mim!

— Você, Gwen... por que você fez isso, cacete! Eu disse que iria...

— Ela não tem nada com isso! Como você tem coragem, Dean? Não foi ela quem te obrigou a engravida-la, foi? Você vai dizer o quê? Como explica esse bebê? Como teria feito para me contar? — Abracei meu corpo, em desespero, percebendo que eu queria sair daquele lugar, mas não tinha para onde ir. — Você ia esperar que estivemos casados, e então aparecer com o bebê?

Dean esfregou o rosto, quase exausto. — Jujuba, eu sinto muito!

— Não, você não sente! Não haja como se estivesse arrependido, Dean, por que você não pensou nas consequências ao me enganar. Você sabia o que estava fazendo. Sabia que me quebraria em pedaços. Sabia que eu escolheria você, ao invés do meu pai... você, Dean, é o responsável por acabar com a minha vida.

Ele sacudiu a cabeça, negando, os olhos vermelhos como os de alguém a beira das lagrimas. — Não...

— Sim! — Sussurrei, e incapaz de falar qualquer outra coisa, desabei em lagrimas, desabei das pernas, sentada no chão, sentindo que minha inteira havia acabado.

Mas juntei o resto de forças que ainda tinha e o encarei quando tentou me levantar. Quando tentou me abraçar. Aquele amor havia se transformado no pior tipo de tristeza e mágoa. Aquele toque que aquecia a minha pele, agora me levava a tremer, a chorar ainda mais, a ponto de mal conseguir respirar.

— Juro que posso explicar, Jujuba. Tudo vai ficar bem, e você não está sozinha. Você ainda tem a mim. Sempre terá, merda! E prometo que vou fazer qualquer coisa para que entenda, e que me perdoe, por que, porra, eu te amo. Não consigo imaginar viver sem você...

Foi como um tapa na cara. Como ele realmente acreditava que tínhamos chance? Quis manda-lo embora, mas não era a minha casa. Era dele.

Deles...

— Você, Dean, nunca me terá. Eu prefiro ser de qualquer outro homem, mas não sua... nunca mais me procure. Nunca mais sequer pense em mim!

Eu podia ouvi-lo me chamando, podia sentir que ele me seguia, mas que algo o impediu no último segundo. Podia sentir tudo, menos que ainda estava viva. Porque, ao sair daquela casa completamente sem rumo, percebi que podia estar respirado, e ainda assim, morta.  

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