A travessia até o último guardião não foi feita por terra, nem por véu.
Foi por sonho.
Na noite que seguiu a batalha contra os reflexos, Miguel foi o primeiro a sentir: uma onda de cansaço que não vinha do corpo, mas da alma. Um chamado sutil, quase como um sussurro de berço.
Um a um, os quatro adormeceram — Miguel, Valéria, Léo e Mateo — e despertaram em um campo sem horizonte, onde estrelas caminhavam pelo chão como vaga-lumes perdidos.
Ali, um menino esperava por eles. De aparência frágil, cabelo branco como nuvem e olhos de tempestade contida.
— Vocês demoraram — disse ele, desenhando círculos na areia com os pés descalços.
— Quem é você? — perguntou Léo, já com os punhos cerrados.
— Eu sou o que resta. O último portador. Mas não fui escolhido... fui criado.
Valéria se aproximou com cautela.
— Criado por quem?
O garoto apontou para o céu, onde uma sombra colossal serpenteava entre as estrelas — um ser de proporções insondáveis, formado de lamentos e memórias que