Nico de Ellefen é um rapaz humilde do reino de Ertiron que nunca conheceu suas origens, grande e forte, é um verdadeiro lutador da Arena do Lustre de Ferro, embora não tenha se tornado tão bem sucedido quanto esperava no início. Millena Leviance compartilha não conhecer suas raízes, mas cresceu em um ambiente completamente oposto: o reino de Wendevel, que não só abriga imensas fortunas, como também conhecimentos que nenhuma outra civilização possui, o Nono Pilar é sua casa desde que consegue lembrar. Ambos entram em uma jornada perigosa e inesperada, onde podem descobrir a estranha ligação que parece existir entre eles, enquanto uma guerra se forma por revanchismo e ganância entre os reinos mais poderosos do continente. No meio disso tudo, terão de lidar com o passado que os assombra como fantasmas e perseguições das quais não veem escapatória, o Lobo de Dirt’alrus surge nessa história épica cheia de reviravoltas para causar ainda mais tragédias, uma maldição que deverá ser aniquilada.
Ler maisMillena gritou de novo antes de cair, vários gritinhos seguiram o seu, vindos da porta metálica que ela não sabia que existia até o momento.— O que seria isso?— “O que seria?”— caçoou a voz.— Isso é. Estamos presos, garota. Se não tem peito para abrir essa porta, dá logo as chaves aqui!— Ah, Nico...— alguém suspirou lá dentro.— Saia daí, você não...— Vocês são ladrões— Millena ergueu-se, recolhendo as chaves.— Vou devolver esse molho assim que encontrar as autoridades.— Que molho? Está vendo alguma sopa? Passa as chaves, doida.— Não me chame de doida— ela começava a se irritar.— Nico, saia daí.A mão sumiu abertura adentro e uma confusão de vozes se iniciou. O peito de Millena ardeu ao perceber o que vinha, os seus perseguidores se aproximavam por ambos os lados do beco.— Fique quieta, docinho— um deles sorria, os cabelos como uma nuvem negra de algodão.— Faremos você gritar pela última vez.— Não, não— el
Cedo na manhã do dia seguinte, eles atravessaram Thur Iniestre, deixando para trás as terras de Wendevel sem saber o dia em que as veriam de novo. Foi com esforço que Bervis conseguiu dar o impulso necessário com suas pernas, mas sobrevoaram tranquilos a paisagem à frente quando o vento soprou convidativo e amigável a presença deles no céu. Às suas costas, o Longo Rio das Raças se tornava apenas uma linha prateada de um horizonte ao outro, uma serpente imensa alimentando vidas por milhares de quilômetros.Adiante, os contornos sombrios da Floresta Áverimr se solidificavam no terreno ondulado, expressando a força que seus domínios possuía, indagava terna e silenciosamente se teriam coragem de se aproximar das suas copas, erguidas por troncos imponentes, alimentadas por raízes fixas e profundas. Ainda mais distantes, as Montanhas Farynan exibiam suas primeiras silhuetas, acenos indiferentes sinalizando que entravam em terras novas. Terras que talvez não os quisessem.Em do
O ackaminoum não se encontrava no mesmo local. Millena olhou para cima, poucos touros alados sobrevoavam baixo a cidade, mas nenhum deles era marrom como o seu amigo. Seu assobio agudo fez eco por Werimiton, tinha esperança de que ele escutasse, porém nenhum ruflar veio ao seu chamado. Viu-se obrigada a segurar as lágrimas, não podia dobrar os joelhos e esmurrar a areia, não queria se mostrar vulnerável.— Lá— disse a voz do taverneiro.Millena seguiu com o olhar para onde ele apontava. Centenas de metros à frente, uma confusão se iniciava. Pessoas corriam e gritavam ao mesmo tempo que asas imensas derrubavam caixas e carroças, assustando cavalos que partiam em galope pelas ruas laterais, causando mais alvoroço. Bervis pulava e fazia círculos, tentando escapar de seu raptor, que era ocultado na poeira que subia. A ackamitzarin assobiou de novo e correu em direção a gritaria desesperada.Esbarrando em pessoas e tropeçando em destroços de madeira, ela chegou àquela c
— Acorde e diga quem é— uma voz baixa a acordou, tão mansa que soube que não foi o único modo de despertá-la, viu que estava certa ao sentir sua cabeça contra uma pedra desconfortável e não mais Bervis.Um pequeno candeeiro era posto próximo ao seu rosto, tornando a visão de Millena inútil para identificar a imagem daquele que a chamava. A ackamitzarin se sentou, sua mão buscando a espada de forma tola. A silhueta de Bervis surgiu de pé a uma certa distância, observando a situação. Acalmou-se, sabia que ele agiria se a montadora fosse atacada.O ar gélido da madrugada a fez encolher e se envolver nos próprios braços, o pensamento de estar sozinha e indefesa tentou fazê-la companhia de igual modo ao frio, mas ela resistiu e o expulsou. Ignorou seus batimentos ao lembrar de Nerissia, Argus e Sirius. Teria que manter o foco na atual situação. Se seu coração fosse bater como os tambores da Cerimônia de Ascenção, seria devido ao presente. O candeeiro se afastou e ela pôde dis
A noção de loucura em atacar os guardas de Syafer se tornou em excitação quando o duelo mostrou sua face mais desafiadora: três contra um, exigindo triplicar sua atenção no que antes se acostumara a ter um único oponente. O primeiro foi surpreendido com o peso do seu golpe, segurando o cabo de forma displicente, por pouco a arma não escapou de suas mãos. Ao tentar retomar o controle, entretanto, já era tarde, Millena atacou pela segunda vez, desarmando-o, botando-o para dormir ao acertar sua cabeça com a parte plana da espada.Os outros dois adversários não foram cavalheiros, nem ela terminava de abater aquele que a subestimara, atacavam com sangue nos olhos. Sua cabeça teria sido cortada ou seu peito, perfurado, se não se esquivasse do da direita e bolasse pelo chão durante a estocada do que vinha pela esquerda. Este permaneceu investindo com ânimo e dedicação crescente, como se derrotar uma garota fosse seu maior sonho de espadachim. Seu companheiro esperava sempre o momento
O cinza pintava a manhã com dedos mornos, a claridade invadia o refeitório a partir das grandes janelas do Nono Pilar. As mesas se enchiam aos poucos de funcionários do palácio: Mestres e aprendizes, Senhores dos Livros e pesquisadores, mas não só eles; haviam também os que se entregavam a funções mais simples, desde enumerar ou separar livros, como Millena, e quem era contratado para carregar incontáveis volumes que um leitor ávido viera levar. As vozes brandas, risos quietos e o som dos talheres davam início ao desjejum. As engrenagens tornavam a girar, o mundo funcionava novamente, ela adorava apreciar esse despertar quase todas as manhãs.Serviu-se como de costume, não obstante os ovos parecerem demasiados oleosos e os nognoas passados do ponto, era uma refeição da qual poderia repetir. Sua mente aos poucos levava a imagem da figura aterrorizante para longe, sumia da luz das suas ideias, como se batesse as asas para espantar o machado em formato de morcego. Sendo um sonho,
Ocorreram as conversas mais importantes desde a chegada dos novatos, que permitiram conhecer mais dos indivíduos que ali viviam. Segundo o que diziam, vinham de lugares diversos e eram esses lugares que sabiam não estar presos naquele momento, pois o transporte levara dias. Nico percebeu que foi o único a dormir durante esse processo. Eram todos trabalhadores: ferreiros, açougueiros, carregadores, construtores, todo tipo de serviço que exigia um tipo elevado de força. Exceto Tadeus.— Eu era um pensador da área da matemática— dizia ele, para o riso de alguns.— Uma noite eu dormi com a mulher do homem que eu gerenciava a fortuna e acordei a caminho desse buraco. Dois meses se passaram desde então, eles não compensaram minha leviana aventura.Vários duvidaram da capacidade dele. Victorstic deu outro depoimento após diversos prisioneiros.— Eu trabalhava em uma mina de ouro desativada em Ristivia, uma das que Wendevel levou tudo. Procurava sem descanso para melhora
Estava tudo quieto e abafado. Nico se levantou rápido e sua cabeça encontrou uma superfície sólida. Tateou de forma nervosa no escuro e descobriu que estava confinado em um espaço cúbico, uma grande caixa de madeira.— Endrick— clamou.Nenhuma resposta veio. Estava tonto e um gosto amargo tomava seu paladar, sentia muita sede, o odor de esgoto proveniente de algum lugar o fazia querer vomitar; só não o fez por sentir no estômago o vazio. Após instantes refletindo no ocioso silêncio, começou a esmurrar seu cubículo, mais por raiva do que na intenção de se libertar, desvendando o que teria de enfrentar por seus atos.Em segundos, abriu um espaço entre as tábuas da madeira, sua saída. Saída não foi a melhor palavra para descrever, pois se viu em uma cela, como um prisioneiro. Correu e agarrou as barras de ferro, brada
Percorreram vias com árvores retorcidas, relva e trepadeiras tomando casas e calçadas, no escuro, cães corriam lembrando lobos ou, para um arrepio na espinha, fantasmas com caninos tão assustadores quanto perigosos. Uma construção branca e enorme como um palácio assomou diante deles, poderia ser bonita se seu aspecto não prometesse guardar todas as sombras vivas do reino. Adentraram o portão, Endrick primeiro, o assobio do vento os acompanhou por uma aleia estreita de frondosas árvores. Perante a escadaria que levava às portas duplas de carvalho, Endrick pegou Nico pelo braço, o olhar misterioso.— Não fale nada, eu cuidarei disso. Não aceite provocações.O garoto assentiu, admirado com o tom de sua fala, como se cada sílaba possuísse um discurso próprio.— Sem mais ação desnecessária— garantiu.As portas se abriram quando o último degrau foi alcançado, um mordomo olhava para eles com a sua expressão vazia, suas roupas, de maneira impecável, brancas.—